O agricultor de base familiar no sertão cearense enfrenta a cada ano dificuldades para manter o cultivo de hortaliças e grãos, mesmo em pequena escala, no período seco que vai de julho a dezembro. Os custos de sistemas de irrigação localizada são elevados e, sem água, parte da produção fica inviável. Mas a boa notícia é que essa realidade começa a mudar entre os horticultores do município de Granja, na zona Norte do Ceará.
Um projeto alternativo desenvolvido por estudantes de uma escola profissionalizante da cidade levou à criação de uma bomba hidrostática feita com duas garrafas PET de dois litros (do tipo retornável, por ter maior resistência).
O custo médio de um pequeno sistema de irrigação convencional é de R$ 3 mil, mas com apenas R$ 120,00 é possível em duas horas elaborar o mecanismo alternativo, que não precisa de energia elétrica.
“Temos uma economia média de 900% só em relação ao sistema convencional e assim podemos alcançar o nosso objetivo, que é ajudar os agricultores de base familiar, os produtores de hortaliças”, comemorou o professor e orientador do projeto, André Luiz Rocha, da Escola Estadual Profissionalizante Guilherme Teles Gouveia.
PANDEMIA ATRASOU DESENVOLVIMENTO
A ideia começou a ser executada pelos alunos do 2º ano do curso de Agropecuária, no início de 2020. Mas, com o advento da pandemia do novo coronavírus, houve mais dificuldades, porquanto as aulas passaram à modalidade online e as visitas ao campo foram suspensas.
Pelo menos 45 sistemas alternativos já foram implantados em comunidades rurais e da periferia da cidade. Uma das beneficiadas é a agricultora Janeta Pereira, que produz hortaliças em pequenos canteiros, na localidade de Lagoa Grande.
A iniciativa mobilizou a turma do então segundo ano e deu aos alunos a ideia de um mundo real, como frisa o professor André Rocha. “Mostramos como usar a matemática, os princípios da física, na vida prática, tirar os conceitos do papel e dos livros”, observou. “Os alunos perceberam que o nosso mundo é ciência e o que eles aprendem na teoria tem aplicação prática”.
Para o aluno, Rafael Lopes, o desenvolver da ideia, as tentativas feitas e aperfeiçoadas até chegar a um resultado positivo foi um aprendizado novo e cheio de boas surpresas.
O professor Marcos Deames Araújo e Silva é coautor do projeto e ressaltou que “todo o trabalho foi desenvolvido, apesar da pandemia e de recursos escassos, com muita dedicação, força de vontade e, por isso, deu certo após várias tentativas, erros, acertos e evolução, de usos de garrafas de tamanhos diferenciados até encontrar a pressão adequada”.
Fonte: Diário do Nordeste