Reconhecer o valor da terra natal, da própria cultura e das pessoas com quem se convive foi um dos principais aprendizados gerados pela experiência de intercâmbio nos Estados Unidos, vivenciada pelas estudantes Aisha Ellen Lemos e Brenda Juara Carvalho. A primeira é aluna da 3ª série na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Paulo VI, em Fortaleza, e a segunda concluiu o Ensino Médio na EEEP Manoel Abdias Evangelista, em Nova Russas, no ano passado. Ambas foram selecionadas para o Programa Jovens Embaixadores 2020. A iniciativa seleciona alunos de escolas públicas de todo o Brasil para passarem três semanas nos Estados Unidos, participando de oficinas sobre liderança, projetos de empreendedorismo social e reuniões com representantes do governo americano.
Conheça mais sobre as histórias de Brenda e Aisha
A viagem dos Jovens Embaixadores ocorreu de 10 a 29 de janeiro passado. Durante a expedição, os estudantes passaram pela capital americana, Washington, e cada um pôde conhecer ainda outra cidade, sendo hospedado por família voluntária.
Aisha ficou instalada em Raleigh, capital do estado da Carolina do Norte, onde teve a oportunidade de acompanhar dois eventos que considerou marcantes. “Participei da Marcha das Mulheres e da Marcha do Povo Negro, que homenageia Martin Luther King. Foi muito engrandecedor estar presente nas ruas, constatando que um país considerado desenvolvido ainda luta por direitos fundamentais. Me vi no meio de culturas totalmente diferentes, pois aquele país é muito plural, e é muito interessante ver como todos se uniam por causas comuns”, avalia.
Reciprocidade
Em relação à experiência com o povo americano, Aisha diz ter ficado impressionada com o interesse demonstrado para com os brasileiros. “Os americanos não sabiam onde fica o Ceará. E ficaram fascinados em nos conhecer, em saber da nossa cultura. Para mim, foi um grande orgulho. Me via como moradora de um lugar com desenvolvimento retardatário. E quando cheguei lá, vi o quanto somos desenvolvidos na causa social”, observa.
A jovem entende que a viagem foi um “divisor de águas” na vida, tendo gerado transformações na maneira de pensar. “Eu entendia os problemas na minha comunidade. Já era envolvida com o empreendedorismo social. Mas não sabia como aplicar isso em minha vida. Estava confusa em relação ao que iria fazer. De repente veio o programa e me deu um norte para o futuro. Foi mais do que um intercâmbio para os EUA, sendo também uma viagem para dentro de mim mesma, em que pude conhecer melhor quem sou e o que quero. Agora sei que preciso trabalhar com pessoas, porque é a mudança social que me move”, revela.
Aluna do curso técnico em Enfermagem, iniciando a 3ª série, Aisha diz se sentir honrada em poder estudar essa área. “Me sinto muito honrada em contribuir para a saúde do Ceará, que a cada dia evolui na assistência, e que eu sinto que é democrática. Pretendo seguir na área da saúde pública e me formar como médica ou enfermeira”, planeja.
Participação
A jovem enaltece o empenho demonstrado pelos estudantes cearenses na tentativa de participar do Programa. “O apoio da Secretaria da Educação (Seduc) na divulgação foi efetivo. Dos 7 mil inscritos de todo o país, mais de 1.700 são cearenses. Esse número é significativo. É bom ver o quão qualificados somos, quantos empreendedores sociais temos, que ainda por cima são falantes de inglês”, reflete.
Aisha destaca, ainda, como positiva, a iniciativa da criação dos Centros Cearenses de Idiomas, dedicados aos jovens do Ensino Médio da rede pública estadual. Os CCIs estão fazendo uma grande mudança entre a juventude. Muitos jovens pelo país não têm essa oportunidade. Conheço várias pessoas que participam dos CCIs e hoje alimentam o desejo de visitar países, de conhecer culturas. O conhecimento de novas línguas nos faz perceber o quanto o mundo é grande. A pessoa que sou é fruto da educação pública do Ceará. Nunca tivemos tantas oportunidades assim antes”, finaliza.
Pioneira
Brenda foi a primeira de sua escola a tentar uma vaga no. Por ter conseguido, agora acredita ter dado início a um movimento na cidade, servindo de motivação a outros jovens para que também persigam o objetivo. “Muitas pessoas mandam mensagem dizendo que eu sou uma inspiração para elas em Nova Russas. Quero continuar a incentivar outros jovens a também seguirem esse caminho”, projeta.
A jovem, que se prepara para iniciar o curso superior em Farmácia na Universidade Federal do Ceará (UFC), após ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio em 2019, descreve como uma das principais vivência do intercâmbio a visita a duas high schools (equivalentes às escolas de ensino médio brasileiras), onde percebeu contraste de realidades. Brenda ficou na cidade de Reno, no estado de Nevada.
“Apesar de elas terem algumas semelhanças, apresentavam grandes diferenças entre si. Uma era indígena e outra era considerada de elite. Na primeira, as pessoas relatavam ser discriminadas pelo fato de não serem brancas. Vi a luta que enfrentavam para serem reconhecidas na sociedade. Na outra, vi o quanto os alunos desconheciam a realidade de outros países. Então, notei que eu podia ser uma porta para que eles notassem que a América não é só Estados Unidos. Estive lá, também, para propagar nossa cultura”, constata.
Ideias
Brenda conta que, durante a viagem, desenvolveu um novo projeto, junto com cinco amigos, denominado Insight, que tem o objetivo de assessorar empreendedores sociais que estão iniciando. “Muitas vezes não se tem o suporte necessário e nem se sabe o que fazer para os projetos evoluírem. Queremos que mais e mais projetos possam surgir e se desenvolver. Somos empreendedores sociais e buscamos, dia após dia, mudar o mundo, a partir da nossa realidade. Com isso, num efeito dominó, outras realidades também podem ser mudadas”, aponta.
“Parabenizo a Seduc pelo incentivo a tantos projetos interessantes, como o Ceará Científico, que apoia alunos da rede estadual na iniciação científica, o protagonismo estudantil, o apoio aos grêmios, o Parlamento Jovem Brasileiro. Esse é o diferencial do nosso estado: colocar o jovem à frente das ações e fazer com que tenha voz e seja ouvido”, conclui.