Cearense divulga no Instagram rotina da filha de 4 anos com microcefalia; menina já passou por 23 cirurgias

Eron Carvalho, 38 e sua filha, Clarice Carvalho, de 4 anos, são lutadoras por natureza. Cearenses de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, elas compartilham entre sim um vínculo que vai muito além da relação de mãe e filha. Ainda na gravidez, Eron contraiu o vírus da zika, o que iria, mais tarde, atingir Clarice na forma de microcefalia, uma má-formação congênita capaz de impedir o desenvolvimento próprio das funções cerebrais e motoras.

Nas redes sociais, Eron Carvalho mostra de forma descontraída o cotidiano e os tratamentos de Clarice. Por meio do perfil intitulado “clarice.bonita”, que conta com 1.962 seguidores, mãe e filha mostram a força das duas durante os tratamentos, através de vídeos e fotos da rotina.

No último dia 18 de outubro, o perfil publicou um vídeo da pequena tendo aula de natação. “Nado Sincronizado é com a @clarice.bonita. Fazer a alegria dessa menina é o que move minha vida. Compartilho esses momentos porque sinto que de alguma maneira pode inspirar sua vida”, diz a legenda, assinada pela mãe, Eron.

“Ela foi diagnosticada na gestação. durante uma ultra morfológica. Mas naquela época, ninguém ainda sabia o que ia ser a síndrome congênita do zika vírus. A gente só sabia que ela provavelmente ia nascer com hidrocefalia”, relata Eron ao G1.

A surpresa foi a pequena ter nascido relativamente “bem”, segundo conta a mãe. Até os 11 meses, Clarice não apresentava sintomas graves. Desde o primeiro mÊs de vida, contudo, ela realiza sessões de fisioterapia. “Quando ela fez 1 ano descobrimos que ela estava com hidrocefalia extrema (aumento anormal do fluído cefalorraquidiano dentro da cavidade craniana) e tendo convulsões. Aí fomos ao hospital e ela começou a usar uma válvula para ficar drenando o líquido. Ao todo, ela passou por 23 procedimentos cirúrgicos e trocou algumas vezes de válvula”, diz Eron.

Tratamento

A evolução do quadro médico de Clarice veio com muita fisioterapia e resiliência. Em fevereiro de 2018 o quadro de hidrocefalia foi aliviado e atualmente Eron considera a garota “curada” desta doença. “Hoje ela faz reabilitação visual, terapia ocupacional, fonoaudiologia e fisioterapia. Ela está muito melhor hoje em dia”, afirma a cearense, que desde abril mora em Recife, no Pernambuco, com Clarice e uma cuidadora.

A decisão de se mudar para a capital pernambucana foi para buscar melhores condições de tratamento. Um cuidado maior com crianças com microcefalia começou a ser tomado por profissionais de saúde no período pós-surto de zika em 2015, ano em que Clarice nasceu. E tem resultado em índices mais “positivos”.

Pesquisa feita pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidas) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia, divulgada neste mês, indica que depois do surto do vírus, quando milhares de crianças nasceram com microcefalia, começou-se a ter um olhar mais apurado para más-formações congênitas em recém-nascidos.

Como resultado disso, as identificações de más-formações congênitas que não são necessariamente associadas à zika aumentaram 20% no Ceará no período pós-epidêmico. “Durante a epidemia, a maioria dos agentes de saúde se comoveu com a imagem da criança com microcefalia, o impacto que causou nas mães e na vida de todos. Os profissionais que acompanharam os casos se sensibilizaram e, na ânsia que de querer ajudar, acabou-se descobrindo a notificação de outras más-formações”, explica Moreno Rodrigues, pesquisador em saúde pública e um dos autores da pesquisa da Fiocruz.

A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) tem acompanhado estes casos. No Estado, desde 2015, nasceram 163 bebês com microcefalia, depois de suas mães contraírem zika na gestação. Neste ano, até o último dia 14 de outubro, nenhum caso do tipo havia sido registrado.

Luta

Durante o tratamento de Clarice, quando ela ainda tinha hidrocefalia e utilizava válvulas, outro momento de dor veio para a família Carvalho. Eron foi diagnosticada com câncer do cólo de útero. Após tratamento e cirurgias ela alcançou a curou e pôde ficar mais forte para auxiliar no caminhar de sua filha.

Fonte: G1.com