“Imagina o meu neto crescer pensando que o irmão dele foi levado? Se for erro das clínicas, vamos aceitar, mas se tinha outro bebê, vivo ou morto, o hospital vai ter que dar conta.” A frase é da empregada doméstica Daniela Santos, mãe de uma adolescente de 15 anos, que deu entrada em um hospital do Grande Recife achando que daria à luz gêmeos, mas só recebeu um dos meninos.
Durante nove meses, a família da adolescente, que não teve o nome divulgado, achava que ela estava grávida de gêmeos. Dois exames de ultrassom, um deles feito em agosto, com oito meses de gestação, mostravam dois fetos e atestavam “gravidez gemelar”.
Além disso, nos exames de pré-natal, as médicas diziam ter escutado batimentos cardíacos de duas crianças, sendo relatos da mãe da gestante.
A surpresa e a frustração vieram durante o parto, ocorrido no sábado (7), no Hospital Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes. Após a cesariana, os médicos disseram aos familiares da garota que havia apenas uma criança.
“Ela passou por quatro médicas no pré-natal e todas escutaram batimentos cardíacos de dois bebês. Na hora da cirurgia, disseram que só tinha um. Não quero acusar ninguém, mas quero saber onde está o erro. A família inteira se preparou. Fizemos o quarto com os nomes dos dois meninos. Agora, só tem um”, afirmou Daniela, nesta quinta-feira (12), em entrevista ao G1, por telefone.
A família, que mora em Jaboatão, se mobilizou financeira e emocionalmente para receber as duas crianças. Na parede, foram colocados os nomes Lucas e Luan, escolhidos pela jovem mãe.
Para os parentes da adolescente, não havia dúvidas. Os exames mostravam, inclusive, posições e medidas diferentes para cada um dos fetos. O parto foi realizado na unidade de saúde, onde, segundo a família, havia uma equipe médica compatível para o nascimento de gêmeos, incluindo duas pediatras.
“A cabecinha está bem em cima, desse aqui. O outro está com a cabecinha embaixo. Esse de cá está com a cabecinha bem aqui e o outro está sentado, com a cabeça para cima”, são algumas das informações repassadas pela médica à paciente.
“Minha filha é muito fechada, mas de vez em quando ela solta frases como ‘as coisas deles’, ‘o quarto deles’, como se fosse mais de um bebê. Os nomes seriam Lucas e Luan e, por isso, eu quis que ela registrasse meu neto como Lucas Luan, mas ela preferiu só Lucas”, diz Daniela
Investigação
O caso chegou à Polícia Civil. Nesta quinta-feira (12), a delegada Vilaneida Aguiar, responsável pela investigação, informou que intimou duas médicas que fizeram os exames para prestar esclarecimentos.
“Eu pedi para ela [a adolescente] trazer a ultrassom original e vou ao Instituto de Medicina Legal [IML], para pedir uma perícia nesses exames e para o médico constatar se são dois bebês. A gente também oficiou o hospital para informar onde está o corpo médico que atuou no parto”, afirma a delegada.
Resposta
Por meio de nota, o Hospital Guararapes informou que o parto ocorreu sem intercorrências e que, “diante dos exames de ultrassonografia realizados pela paciente em outras instituições e que demonstravam que ela estava com gestação gemelar”, preparou equipe assistencial “incluindo, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, compatível com o procedimento de cesariana.”
O hospital afirmou, ainda, que “a mãe da paciente estava presente no parto de sua filha e assistiu a todo o procedimento da equipe médica, desde o início da incisão para a cesariana até a saída do bebê e acompanhou todo o ato cirúrgico bem como a surpresa de toda a equipe ao constatar que havia apenas um bebê.”
Segundo a unidade hospitalar, a mãe “também acompanhou os procedimentos de verificação da equipe médica no intuito de ter a certeza de que não havia outro bebê, sendo, de fato, constatado que não se tratava de uma gestação gemelar.”
Por fim, o Hospital Guararapes informou que está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.
Fonte: G1.com