Um dos principais destinos turísticos do Ceará, a praia de Jericoacoara, vem sofrendo com os desgastes ocasionados pela ação humana. Um de seus atrativos, a Duna do Pôr do Sol, corre o risco de desaparecer. Somente no último ano, a duna já perdeu quase cinco metros de altura e mais de 1.200 metros quadrados de volume.
Segundo o técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), e doutorando na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel, a duna “está perdendo cerca de 6% de seu volume e da sua área por ano”.
Na década de 1980, ela tinha cerca de 60 metros, mas, hoje, essa altura está reduzida à metade. Diante do atual cenário, Gustavo é enfático em dizer que “se nenhuma medida efetiva for adotada rapidamente, a Duna vai desaparecer”.
O destino cearense é responsável por atrair, todos os dias, centenas de turistas que se acomodam na praia para observar o pôr do sol. O coordenador de cartório Cândido Oliveira Filho trouxe a família de São Paulo para conhecer o “paraíso”, como ele classifica a Praia de Jericoacoara.
“Amigos que já tinham visitado Jeri me indicaram e depois eu fui pesquisar na internet. Vi várias fotos, lindas por sinal, e decidi vir com a toda a família. O local é encantador, um paraíso, mesmo que a duna esteja bem menor do que a gente observou pelas fotos da internet”, explica o turista.
A nutricionista paraibana Camila Calixto tem um sentimento semelhante ao do paulista. “Minha lua de mel foi aqui, há 15 anos. Retornei neste ano para comemorar as Bodas de Cristal e notei que ela está bem menor”, observa a paraibana. Os moradores, que tem o privilégio de acompanhar essa cena com maior frequência, confirmam que a duna está diminuindo ano após ano.
Impacto humano
Pesquisas da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontam que a migração da Duna do Pôr do Sol foi incrementada a partir de 2001, “possivelmente estando relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o aumento da temperatura global”.
Gustavo Gurgel explica que, ao longo dos últimos anos, os corredores de ação eólica, os quais são responsáveis por alimentar as dunas, “perderam suas funções”.
O pesquisador reitera que os “corredores não conseguem mais levar a quantidade de areia necessária para garantir a manutenção da faixa. Desta forma, não está havendo alimentação da duna”.
Limite para visitação
Gurgel adverte para a necessidade de controlar o acesso à duna. Apesar de não mencionar a “limitação de turistas”, propõe a criação de uma área limite para os visitantes. “Não é restringir o acesso, isso não é necessário neste primeiro momento, mas melhorar a visitação. Quando o sol se põe, muitos turistas descem a duna por uma faixa onde acelera, ainda mais, o processo de degradação.
Essa areia é jogada ao mar dia após dia. Então, se houver um direcionamento, um trabalho de educação ambiental, somado às técnicas de manejo, poderemos, sim, reverter esse processo de erosão que avança a passos largos”, explica Gustavo.
Segundo o pesquisador, com essas propostas sendo executadas, a previsão é de que, já no primeiro ano após a instalação, a Duna do Pôr do Sol deixe de erodir e, a partir do segundo ano, os corredores eólicos consigam garantir mais sedimentação do que erosão.
Plano de manejo
Diante do atual nível de erosão e degradação da duna, a Semace está realizando um estudo na área para viabilizar um plano de manejo na unidade ambiental.
O pesquisador da Uece diz que a intenção é implantar técnicas de manejos ambientais em Jericoacoara, para, assim, “reativar as funções dos corredores eólicos, possibilitando a eles novamente atuarem”.