O Projeto Golfinho Rotador, de Fernando de Noronha,intensifica as ações para finalizar um catálogo sobre os animais registrados na ilha. Durante 28 anos, a organização não-governamental (ONG) identificou cerca de 700 bichos. Até 2021, a entidade pretende cadastrar pelo menos mais 50 indivíduos.
Um dos meios de identificar os golfinhos é pelas marcas no corpo dos bichos. Podem ser avaliadas as cicatrizes de contato dos mamíferos e outros animais, como os tubarões-charuto.
Nesse caso, trata-se de marcas circulares, provocadas pela mordida desse tubarão, cientificamente chamado Isistius brasiliensis.
“Em Fernando de Noronha, onde a água é transparente, a gente vê e registra o corpo inteiro, possibilitando a análise de marcas de outras partes, não só da nadadeira dorsal”, o coordenador-geral do Projeto Golfinho Rotador, José Martins.
Este ano, no entanto, segundo os responsáveis pelo projeto, a incidência de chuvas no arquipélago exigiu mudanças na forma de cadastramento dos golfinhos.
Como a água do mar não está tão transparente, como ocorre normalmente, os pesquisadores analisam as nadadeiras dorsais dos animais, em vez de verificar o corpo inteiro.
“São tantas fotos que há golfinhos ainda a serem descobertos no nosso banco de imagem”, revela, a pesquisadora Lisanda Maria Bezerra, que realiza o trabalho.
Os golfinhos vivem entre 20 e 30 anos. Com a conclusão do trabalho, a equipe vai iniciar outro catálogo.
Resultados
Com a identificação dos golfinhos a partir das marcas do corpo, a equipe do Projeto Golfinho Rotador obteve informações valiosas sobre o comportamento da espécie.
Os pesquisadores ressaltam que ao avistar na ilha, dois anos após o registro, um golfinho que está no catálogo é possível concluir que o animal tem fidelidade ao local.
O estudo de animais, por meio de fotos e vídeos, é considerado uma pesquisa ecológica de longa duração. Ele se caracteriza pelo acúmulo de conhecimento científico sobre o ecossistema, funcionamento e dinâmica temporal e espacial.
Os resultados obtidos em edições anteriores evidenciam alterações contínuas na interpretação dos dados, em função do incremento de observações.
O último estudo identificou que 43,5% dos indivíduos tiveram apenas uma “avistagem” registrada e 18,4% dos indivíduos tiveram mais de cinco observações.
“Os indivíduos mais frequentemente avistados demonstram maior grau de fidelidade ao local, sugerindo que esses golfinhos são mais residentes do que aqueles que possuem cinco ou menos avistagens”, informa José Martins.
O trabalho do Projeto Golfinho Rotador conta com patrocínio da Petrobras. A organização é responsável pela execução do projeto, que tem coordenação do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio).