Usar vestido de noiva nunca foi um sonho para Victoria Carneiro Leão, 27, já que a união estável com o tatuador trans Pierre Garret, 32, já parecia suficiente. Entretanto, a retificação judicial do nome do noivo, em outubro, foi um dos fatores que provocaram a mudança de planos na dupla, que, atualmente, aguarda uma festa coletiva feita para cerca de 100 casais LGBT, que conta com o apoio de voluntários que se disponibilizaram a fazer serviços gratuitos para a cerimônia.
Mesmo com o prazo apertado para planejar detalhes, o casal decidiu participar do mutirão da Defensoria Pública de Pernambuco, na quarta (7) e na quinta (8), para emitir ofícios que concedem gratuidade do procedimento nos cartórios. O casamento coletivo deve acontecer até dezembro.
“Não era algo que eu sonhava, mas isso vai dar uma segurança maior para nós e para outros casais LGBT. Agora a ansiedade está batendo e estou atrás das roupas e de alianças”, conta a noiva, diante do compromisso inesperado.
“Foram mais de 100 casais que nos procuraram e não esperávamos esse número. É uma coisa que pode ser feita ao longo do ano, basta agendar para conseguir, mas acredito que a divulgação dessa ação de casamento coletivo fez com que mais pessoas nos procurassem”, afirma a defensora pública Renata Gambarra, do núcleo de promoção e defesa dos direitos humanos.
De acordo com dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, que reúne dados de cartórios do país, o número de casamentos LGBT cresceu cerca de 96% em Pernambuco, em relação a 2017. Apesar do crescimento, alguns casais acreditam que o cenário pode mudar no futuro.
“A gente não tinha dinheiro para fazer uma festa de casamento e estamos com medo de que esse direito nos seja tirado por causa do resultado das eleições”, diz Cinthia Carvalho, 27, que pretende participar da cerimônia coletiva junto com a noiva Viviane Calado, 25.
Percebido pelas associações Mães pela Diversidade e Espaço Acolher, que oferecem acolhimento psicológico e atendimento jurídico à população LGBT desde abril de 2018, o medo de casais como Cinthia e Viviane foi um dos incentivos para organizar a ação junto com a Defensoria Pública do estado.
Viviane Calado, 25, e Cinthia Carvalho, 27, estão dispostas a participar do casamento LGBT coletivo em dezembro — Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press
“A declaração que a juíza Maria Berenice Dias [presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual e de Gênero do Conselho Federal da OAB] deu recentemente, falando que a população LGBT deveria agilizar esse processo, nos motivou. Estamos visualizando uma população tomada de medo, aflita, angustiada, e tínhamos que fazer qualquer coisa para eliminar esse sentimento”, diz a coordenadora Gi Carvalho.
Solidariedade, a ‘madrinha’ do casamento
Para atender aos noivos e noivas, uma rede de voluntários que têm se disponibilizado para prestar serviços tem contribuído para driblar a falta de tempo para o planejamento. “Já conseguimos maquiador, fotógrafo para o pré-casamento e locação para o ensaio de graça. Muitas pessoas estão querendo ajudar”, comemora Cinthia.
“Muitos casais levam um ano e meio, dois anos para planejar um casamento, já esses casais têm somente algumas semanas. Por isso, a gente conversou e quis ajudar, se oferecendo para tocar”, conta o músico Daniel Ribeiro, vocalista da banda Toca do Cuco, que se reuniu com os integrantes para tocar no dia da festa
Também disposta a ajudar, a fotógrafa Silla Cadengue também se ofereceu para registrar o enlace de alguns casais.
“Se a gente não se ajuda pra se fortalecer, ninguém anda. Sou hétero, mas quero fortalecer esse movimento”, afirma a profissional, que divulgou a disponibilidade para fotografar casamentos LGBT gratuitamente até dezembro e, pouco tempo depois da publicação, foi procurada por cinco casais.
Victoria e o futuro marido foram à Defensoria Pública de Pernambuco dar início ao processo para casarem no civil — Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco
Fonte: G1