Violência no campus faz Faculdade de Odontologia planejar transferência para o Recife

Assaltos, perseguições policiais e corpos encontrados na área do campus têm tirado a tranquilidade de quem trabalha ou estuda na Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP), em Camaragibe, no Grande Recife. Diante da apreensão da comunidade acadêmicadevido à insegurança na área, a direção da unidade não vê o reforço da segurança como uma solução definitiva e estuda, depois de 43 anos, dividir espaço com outros cursos da Universidade de Pernambuco(UPE) no Recife.

“A solução seria sairmos daqui. Estamos buscando essa alternativa com a reitoria desde o início do ano, para irmos ao campus Santo Amaro e dividirmos espaços com outros cursos da área da saúde da Universidade. A reitoria sabe que isso é algo ‘para ontem’ e se mostrou favorável ao nosso pedido”, explica a diretora da FOP, Mônica Pontes, sem mencionar prazos para que a mudança, de fato, seja feita.

A decisão é motivada pela insegurança relatada por professores, servidores e alunos da universidade. “Aqui a gente se sente exposto. Ninguém sai sozinho, tem que ir em grupo para a parada de ônibus. O trajeto do prédio até a parada é muito perigoso”, conta a estudante Vitória Vasconcelos, do 5º período de odontologia.

O largo intervalo entre rondas completa a equação que resulta no medo da comunidade acadêmica. “No começo do ano, vimos alguns policiais andando pelo campus, mas eles não vieram mais. Vez ou outra aparece um carro de polícia, mas não é sempre”, conta a estudante Laura Arruda, aluna do 6º período de odontologia.

Faculdade de Odontologia de Pernambuco está situada em Camaragibe, no Grande Recife, há 43 anos — Foto: Marlon Costa/Pernambuco PressFaculdade de Odontologia de Pernambuco está situada em Camaragibe, no Grande Recife, há 43 anos — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Faculdade de Odontologia de Pernambuco está situada em Camaragibe, no Grande Recife, há 43 anos — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Nos 2,5 mil metros quadrados de área construída no campus, a universidade divide espaço com uma comunidade em que vivem 100 famílias e uma escola estadual. “Não podemos limitar a entrada porque existem pessoas que moram aqui. É a casa delas, então não podemos limitar”, explica o vice-diretor da instituição, Marcos Japiassú.

Durante encontros com a Secretaria de Defesa Social (SDS), foi sugerida a implantação de câmeras de segurança, cancelas e muros, mas mesmo que fosse limitada, a entrada no campus não se restringe aos quatro portões oficiais.

“Pela mata, qualquer um pode entrar para fazer o que quiser. Tivemos um corpo encontrado aqui na área em setembro e foi o quarto deixado na área do campus somente nesse ano”, afirma a diretora.

“Formamos cirurgiões dentistas, atendemos à população e fazemos tratamentos de alta complexidade aqui. O fato de sermos vulneráveis nos impede de fazer atendimentos à noite, por exemplo. A população perde com isso”, afirma a diretora.

Violência compromete aulas

De acordo com a direção da faculdade, a violência faz com que as aulas, cujo término é marcado para as 17h, se encerrem, normalmente, uma hora antes do previsto.

“Os professores acabam liberando os alunos às 16h, porque sair daqui é complicado. Os alunos só saem do prédio em direção à parada de ônibus em grupo porque têm medo de assaltos durante esse percurso”, conta a diretora da instituição, Mônica Pontes.

Já houve, no entanto, situações em que a violência manteve os alunos por mais tempo em suas atividades no campus. “Há umas duas semanas, fomos orientados a ficar dentro do laboratório mesmo depois do fim da aula porque avisaram que dois homens armados entraram no prédio”, diz o estudante Matheus Miranda, do 7º período de odontologia. Outros alunos também foram orientados a permanecer onde estavam como medida de segurança.

Segundo a diretoria, o caso foi um boato. “Chamamos a Polícia e uma equipe veio, entrou em todas as salas e não achou ninguém. Há alguns trabalhadores retirando uma antena de telefonia e não estamos acostumados à presença deles, mas nada foi confirmado”, explica Pontes.

Alunos contam que procuram sair acompanhados do campus da FOP por causa do medo da violência — Foto: Marlon Costa/Pernambuco PressAlunos contam que procuram sair acompanhados do campus da FOP por causa do medo da violência — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Alunos contam que procuram sair acompanhados do campus da FOP por causa do medo da violência — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Estratégias de segurança

Na terça (25), a direção da universidade se reuniu com a Secretaria de Defesa Social para expor os problemas. “A Polícia tem nos atendido sempre que precisamos. Sabemos que a demanda está grande em todos os lugares, mas esse é um assunto que tem nos preocupado bastante”, alega a diretora da FOP.

A partir dos encontros com a direção da faculdade, a Secretaria de Defesa Social (SDS) alegou, em nota, ter ampliado as rondas da Polícia Militar a pé, de moto e com viaturas da corporação. O órgão também afirma ter implantado pontos de abordagem em frente à faculdade dentro da operação Transporte Seguro.

A Prefeitura de Camaragibe informou, por meio de nota, que a Guarda Municipal dará apoio ao 20° Batalhão da Polícia Militar, responsável pelas rondas no local. “O secretário municipal de Mobilidade Urbana e Segurança Cidadã, Delamo Meira, irá sentar com a 2ª Seção do batalhão, para alinhamento de atuação”, aponta o texto, que reforça ainda ser responsabilidade estadual a questão de segurança pública.

Fonte: G1