O Público feminino é o maior consumidor de jogos eletrônicos no país, de acordo com a última Pesquisa Game Brasil, referência em dados sobre o perfil dos jogadores. Elas representam 53,6% dos gamers.
Apesar de serem maioria, não é difícil encontrar mulheres que tenham histórias de preconceito e assédio para contar. Nesta sexta-feira (18), “campuseiras” se reuniram em um dos palcos da Campus Party, maior evento de tecnologia do país, realizado pela segunda vez na Arena Fonte Nova, em Salvador, para debater conflitos nos ambientes dos jogos.
Mariana Medina, 20, joga desde os oito anos e já passou por diversas situações de assédio enquanto jogava. Segundo ela, desde que passou a ser uma gamer, as dificuldades para encontrar espaço e ser respeitada como jogadora são muitas.
“Desde cedo, quando a gente jogava games mais bobos, que não eram tão grandes quanto os que se tem hoje, já tinha um preconceito. Quando descobriam que eu era menina, eles só queriam saber de namorar, ou conversar no sentido de relacionamento, e não do jogo”, conta.
Na adolescência, o cenário foi piorando. “Na fase das lan houses era bem ruim porque ninguém respeitava meninas que frequentavam. Então, eles ficavam olhando a gente jogar atrás do computador, zoando o tempo inteiro e atrapalhando”, relembra.
Layza Vieira, 21, também tem relatos de assédio durante os jogos em lan house. “Eu só conseguia jogar nos períodos em que tinham poucos caras lá. Fora isso, nos jogos online é muito difícil não assediarem a gente. Eles pedem contato, pedem para a gente mostrar os seios na webcam. Como a gente não mostra, eles nos chamam de nomes pejorativos. É degradante”, relata.
Para poder jogar sem ser importunada, ela recorre a métodos como se identificar por um nome masculino. “Meus nicks são sempre nomes masculinos, porque senão eles não nos deixam em paz. Nos jogos como League of Legends [LoL], que tem interação online, eu desligo a câmera e o microfone. Se você der sinal de que é mulher, é suficiente para eles te perturbarem”, diz Layza.
Mariana também é jogadora de LoL e, assim como Layza, tem queixas com relação aos jogadores. Ela já perdeu a conta de quantas vezes recebeu “rages”, que são ataques com xingamentos no chat de conversas do jogo.
“Quando eu comecei a jogar LoL, há cinco anos atrás, desde o primeiro dia percebi que é só o cara descobrir, pelo seu nick, que você é mulher, que ele vai te dar rage, independente de você estar jogando bem. Se você cometer um erro mínimo, é o maior erro do jogo. É como se você tivesse destruído a partida inteira porque você é mulher e cometeu um errinho”, conta Mariana.
Os ataques dos jogadores que não gostam de dividir o espaço com as mulheres não se restringe às partidas. Isabela Sardeiro, uma das organizadoras do Arena Games, evento baiano voltado para jogos eletrônicos e campeonatos também revela situações desrespeitosas, onde jogadores acabam sendo banidos dos campeonatos.
“Já sofremos situações do homem achar que pode gritar com a gente, porque somos mulheres. Deles exaltarem a voz com a justificativa de que somos só ‘as meninas que estão organizando’, é sempre assim”, revela.
E complementa: “Outra coisa que acontece é a gente falar que é jogadora, e ele ficarem questionando coisas do tipo ‘quando foi a primeira edição de lançamento de tal jogo?’, como se a gente tivesse obrigação de saber a história completa do tempo dos jogos. Se você é uma menina gamer, você tem que provar o tempo todo que sabe de tudo, para ter a validação deles”, finaliza.
Fonte: G1 nordeste