O banhista potiguar atacado por um tubarão no domingo (15), na Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife, procurava emprego em Pernambuco e, de acordo com amigos, foi avisado dos riscos de mergulhar na área, especialmente com o tempo chuvoso. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a época chuvosa, especialmente no segundo trimestre do ano, é um dos períodos que mais propiciam a incidência dos ataques. (Veja vídeo acima)
Pablo Diego Inácio de Melo, 34 anos, estava em Pernambuco desde janeiro deste ano procurando emprego. No domingo, ele passou por cerca de quatro horas de cirurgia para amputação da perna direita. Diego, como é chamado pelos amigos, decidiu ir à praia com outros dois colegas, mesmo com o tempo chuvoso.
“Foi a segunda vez que ele foi à praia aqui. O pessoal que estava com ele conhecia a situação, avisou. Ele estava ciente do risco, de que não deveria ir para muito fundo. Também havia placas dizendo que era área de risco, principalmente porque a maré estava cheia”, disse o microempreendedor Leandro do Nascimento, amigo da vítima.
Chefe de comunicação do Corpo de Bombeiros, o major Aldo Silva explicou que, em períodos em que há maior propensão aos ataques de tubarão, é preciso dobrar a atenção e seguir dicas de segurança. Nos locais sinalizados com placas que informam sobre os riscos de ataques, a população deve evitar o banho de mar.
“A incidência é bastante alta neste período, porque a água está turva e o tempo está nublado. Mesmo que, com o passar do dia, fique ensolarado, não dá tempo de ficar com a transparência natural. O tubarão tem uma visão turva por natureza. Não por acaso, na época em que o surf era permitido nesta área, eles confundiam muito surfistas com as tartarugas, que fazem parte da cadeia alimentar deles”, disse Major Aldo.
Ainda segundo os Bombeiros, além dos fatores ambientais, a ação humana também pode atrair os animais.
“Água no umbigo é sinal de perigo, tanto para possíveis afogamentos quanto outros incidentes. Já tivemos acidentes com tubarões com água abaixo do joelho. Por exemplo, uma mulher que foi urinar, pensando que estava segura, mas a urina atrai o tubarão, assim como o sangue. Materiais cintilantes, como anéis e relógios, também são fator de risco”.
O ataque
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o chamado para socorrer Pablo Diego foi feito às 14h38. O incidente aconteceu na altura da Igrejinha de Piedade. Depois dos primeiros socorros feitos por duas equipes de bombeiros, a vítima foi levada de helicóptero ao Hospital da Restauração, onde teve a perna direita amputada.
O paciente teve ainda o braço direito revascularizado, por causa da extensão da lesão. A revascularização é feita quando as veias e artérias são unidas para restabelecer a circulação sanguínea. O paciente está internado na UTI, respirando com ajuda de aparelhos e usando drogas vasoativas para manter a pressão arterial. O estado dele é considerado gravíssimo.
As informações foram repassadas pela Secretaria de Saúde do Estado (SES) e os procedimentos foram realizados no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife, por uma equipe formada por médicos traumatologistas, cirurgiões vasculares e anestesistas. Os cirurgiões ainda trataram de diversos ferimentos nos dois braços.
De acordo com o oficial de operações do Grupamento Marítimo (GBmar) que participou do atendimento, capitão Arthur Leone, o homem estava numa área sinalizada por placas. Segundo ele, o homem estava com água na altura da cintura e provavelmente foi mordido primeiro na perna, tentou se defender e em seguida foi mordido nos braços.
Dois outros homens que estavam na água junto com Pablo ajudaram a retirá-lo do mar. Ele foi resgatado consciente. O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) vai realizar uma análise do caso. No dia 7 de abril de 2018, o Cemit havia atingido a marca de três anos sem incidentes registrados no continente. Os três últimos casos haviam sido registrados em Fernando de Noronha.
Reforço nos avisos de área perigosa
Em 2016, o Cemit iniciou a instalação de 110 novas placas de alerta aos ataques de tubarão na orla da Região Metropolitana do Recife (RMR). Os equipamentos foram instalados no trecho de Olinda até a Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, também no Grande Recife, para substituir placas deterioradas ou extraviadas.
Casos recentes
Em janeiro de 2018, um surfista de 20 anos foi ferido por um tubarãono arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. O jovem, natural da Bahia, surfava na Praia da Conceição no final da tarde de 12 de janeiro quando caiu da prancha e foi mordido. Encaminhado a uma unidade de saúde, o jovem teve alta no mesmo dia por se tratar de um ferimento leve.
Em dezembro de 2015, um turista do Paraná foi atacado por um tubarão na Praia do Sueste, também em Fernando de Noronha. O homem estava mergulhando no momento do ataque e teve a mão e parte do braço amputados. Segundo o International Shark Attack File (Arquivo Internacional de Ataques de Tubarão, em inglês) da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, esse foi o único caso de ataque de tubarão verificado no Brasil em 2015.
Em 2013, uma jovem de 18 anos, de São Paulo, foi atacada por um tubarão na Praia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Atacada em 22 de julho, ela faleceu no dia seguinte, após ter sido internada no Hospital da Restauração.
Contagem oficial de casos
Em Pernambuco, a contagem começou a ser feita pelo Cemit há 26 anos, quando os casos passaram a ser mais recorrentes no estado. Desde 1992, 24 pessoas morreram vítimas de tubarões no litoral pernambucano. No mesmo período, o órgão registrou 62 incidentes, termo utilizado para enquadrar ocorrências envolvendo seres humanos e tubarões.
Segundo o Cemit, a ocorrência registrada no domingo (15) ainda não faz parte da contagem pois precisa ser estudada, como é de praxe.
Fonte: G1 nordeste