O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Nº 13.146/2015) institui o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais, inclusão social e cidadania, em condições de igualdade. É com base nessa Lei que a Associação de Surdos de Iguatu (ASI) e o Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) reivindicam a criação de um curso de graduação em Letras Libras, no Instituto Federal do Ceará (IFCE), campus do Iguatu.
Para chamar atenção da instituição, a comunidade surda de Iguatu promove, neste sábado, 18, uma mobilização na Praça da Caixa, na rua Floriano Peixoto, Centro do município. Os manifestantes se encontrarão às 8 horas na praça e seguirão em caminhada com cartazes pelo Centro. De volta à Praça, haverá oficina, apresentação teatral e musical em Libras, a língua brasileira de sinais.
Fundada em 2004, a Associação é responsável pelo primeiro projeto de educação especial no município situado a 384,1 km de Fortaleza. De lá pra cá, mais de uma dezena de surdos já se formaram no ensino fundamental e médio, e outros estão em processo de formação. Além de Iguatu, moradores de Cedro, Icó e Cariús também se formaram.
“Antes desse projeto não existiam surdos na educação de Iguatu”, diz o presidente da Asi, Antônio Nelson Teixeira. “A partir disso, mapeamos a comunidade e descobrimos que praticamente todos os surdos estavam fora das escolas por falta de intérprete. Batalhamos cada vez mais por esse direito”.
A Associação conta com cerca de 80 surdos, muitos ainda fora da realidade de inclusão. Conforme o presidente, ainda é preciso implantar a educação especial em pequenas comunidades da região, como José de Alencar, Quixelô e Serrote.
Cultura surda
“A questão de acessibilidade aqui em Iguatu ainda é complicada. Nós precisamos de oportunidades no ensino e no mercado de trabalho e a única oportunidade é ensinar Libras. Por isso essa graduação é tão necessária”, destaca.
“Há também a acessibilidade comunicativa. São poucos os intérpretes preparados para lidar com as instituições, como Ministério Público e hospitais, quando necessário”, completa Nelson teixeira. A vice-presidente Bruna Semelon destaca que o curso vai difundir ainda mais a cultura surda. “A comunicação no setor público vai ser mais acessível”. A cidade conta hoje com apenas sete intérpretes.
Intérprete da língua de sinais há 16 anos, o professor Emerson Cristian Pereira, do IFCE, também elaborou um projeto político de curso de licenciatura em Letras Libras. Parte do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne), ele diz que a manifestação deste sábado deverá sensibilizar a reitoria do IFCE para a concepção do curso.
Ele lembra que o único curso de graduação no Estado é da Universidade Federal do Ceará (UFC) e que a Universidade Federal do Cariri (UFCA) também está no processo de discussão. “Chegou a hora do ensino superior fazer sua parte. Essa luta é da comunidade”. A expectativa, conta Emerson, é que aproximadamente 200 pessoas participem da passeata.
A proposta pedagógica do curso foi apresentada à reitoria do IFCE na última semana. Em nota enviada ao O POVO Online, a assessoria de comunicação do IFCE reconheceu a importância da reivindicação do curso na Cidade e que deve estudar a proposta apresentada pela Associação de Surdos de Iguatu (ASI) e pelo Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne).
Confira a nota na íntegra:
Em relação à demanda pela implantação do curso de Licenciatura em Libras no campus de Iguatu, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), entendemos como legítima a reivindicação de segmentos da sociedade local. É importante destacar que qualquer pessoa ou entidade pode solicitar ao IFCE um estudo acerca da possibilidade de abertura de curso técnico ou superior.
Com base na demanda, faz-se um estudo de viabilidade para verificar as condições de infraestrutura e de corpo docente, submete-se a proposta a uma audiência pública no campus e depois aprova-se perante o Conselho Superior (Consup).
O campus de Iguatu, por sua vez, encontra-se à disposição para receber dos proponentes o pedido para submetê-lo a análise perante a comunidade. Vale lembrar que, diante da aprovação do curso, é preciso incluí-lo no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), para garantir os recursos financeiros necessários à implantação.
RUBENS RODRIGUES
O POVO