O Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução (LFCR) da Universidade Estadual do Ceará (Uece), com apoio da Funcap e da Secretaria do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, por meio do projeto Inovafauna, se prepara para reiniciar a produção de embriões clones de veado-catingueiro. A espécie tem risco de extinção em alguns estados brasileiros.
O veado-catingueiro é uma pequena espécie de cervídeo neotropical, pesando em torno de 18 kg e com altura média de 50 cm. A espécie se distribui ao sul da região amazônica até o Uruguai e a porção central da Argentina, ocupando o leste das regiões pré-andinas da Bolívia e Argentina até a costa Atlântica do Brasil.
Com o objetivo de ajudar na conservação desta e de outras espécies de cervídeos encontradas no Brasil, o Laboratório realiza pesquisas sobre o uso da Transferência Nuclear de Células Somáticas interespecífica (TNCSi), ou seja, a clonagem de indivíduos utilizando células da pele do veado-catingueiro e óvulos de animais domésticos (vacas e cabras). “A importância desta técnica é obter a clonagem sem a necessidade de colher óvulos de uma espécie silvestre de difícil manejo e com uma população diminuta”, explica o pesquisador do LFCR e professor da Faculdade de Veterinária (Favet/Uece), Vicente Freitas.
Com estudos publicados em 2020, no periódico Cellular Reprogramming, e outro em 2022, no periódico Theriogenology Wild, a pesquisa obteve os primeiros embriões clones do cervídeo. Utilizando óvulos de cabras chegou-se até ao estágio de mórula (primeiro estágio da embriogênese), enquanto ao usar óvulos de vacas, os embriões se desenvolveram mais e alcançaram o estágio de blastocisto, isto é, momento adequado para realizar a transferência para o útero de uma fêmea receptora.
Agora, neste final de 2023, novos processos são iniciados, como conta o professor Vicente. “Já iniciamos a fase de preparar as células doadoras. A partir daí inicia-se a produção dos embriões clones e, posteriormente, a transferência para mães-de-aluguel (receptoras). Nesse processo estão envolvidos também os pesquisadores Luciana Melo (professora na Unifametro), Maiana Chaves (Funcap/CNPq) e Satish Kumar (Funcap/Sema)”.
O material genético do veado-catingueiro a ser clonado será incorporado, provavelmente, em óvulos de vacas, cabras ou ovelhas, as “mães-de-aluguel”. Em 2024, após o nascimento dos primeiros veados-catingueiros clonados, a pesquisa seguirá para fase de acompanhamento do desenvolvimento dos animais. Espera-se, no futuro, introduzir os animais em seu habitat.
Inovafauna
O Inovafauna tem como objetivo maior aplicar a Ciência para atender os desafios demandados pela fauna silvestre do Ceará. Esse projeto é uma continuidade de outro já encerrado, as Listas Vermelhas da Fauna Ameaçada do Estado do Ceará, que, de forma inédita, revelaram 100 animais ameaçados de extinção em nível estadual e ainda lançou outros produtos como os Inventários da Fauna e da Flora.
Em 2023, o Inovafauna foi lançado como projeto guarda-chuva, abrindo três subprojetos. Os Planos de Ação para a Conservação da Fauna Ameaçada de Extinção do Ceará, coordenados pelo professor Hugo Fernandes, e a exemplo dos planos nacionais, estão mostrando quais metas e objetivos devem ser cumpridos pelo primeiro, segundo e terceiro setor para mitigar os riscos de extinções no estado.
O projeto geral está dividido em três subprojetos, que visam coordenar ações voltadas para a preservação da fauna; usar a clonagem in vitro para preservação de animal em extinção; e executar estudo de viabilidade econômica para observação de aves. A clonagem está prevista no subprojeto 2 – Uso de biotécnicas da reprodução para conservação de espécies ameaçadas. Ele visa utilizar a técnica de Transferência Nuclear de Células Somáticas interespecífica (TNCSi) para obtenção de filhotes clones de veado-catingueiro.
Fonte: Ascom Uece