A Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte vai entregar em breve o Centro de Artesanato Maria Cândido, um importante equipamento cultural da cidade. O prédio público está sendo reformado para se tornar um ponto central de comercialização e valorização do artesanato local, oferecendo visibilidade aos artistas da região. O espaço será dedicado à produção, ao incentivo à economia criativa e à promoção de oficinas de artesanato.
Atualmente, o município conta com diversos pontos de artesanato, como o Centro de Artesanato do Ceará (Ceart); a Lira Nordestina, uma gráfica responsável pela produção de literatura de cordel e xilogravuras, vinculada à Universidade Regional do Cariri (URCA); e o Centro Mestre Noza, da Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte. Além disso, o artesanato é uma das maiores expressões culturais da cidade, presente em locais como o Largo do Socorro e mercados municipais.
O artesanato local é uma rica expressão de criatividade e história, consolidando-se como uma atividade econômica importante para o município. Sua comercialização cresce especialmente durante as festas religiosas, como as Romarias. Juazeiro do Norte é reconhecido pela diversidade de artesanato, que inclui trabalhos em couro, madeira, palha, barro, metal e tecido. Entre os artesãos locais, há nomes de renome nacional e internacional, com obras expostas em museus e mestres da cultura cearense que preservam a cultura sertaneja.
O artesanato de Juazeiro do Norte tem recebido apoio de políticas públicas municipais e estaduais, bem como de iniciativas privadas e organizações culturais. Nesse contexto, foi identificado um espaço municipal para incentivar ainda mais o artesanato local. Por isso, o Centro de Artesanato Municipal foi batizado de “Maria Cândido” em homenagem a Maria de Lourdes Cândido Monteiro, pernambucana que se estabeleceu em Juazeiro do Norte e encontrou no barro a matéria-prima para suas criações, contribuindo para a renda de sua família.
Dona Maria, falecida aos 82 anos em março de 2021, vítima de câncer, deixou um legado como artesã reconhecido tanto em Juazeiro do Norte quanto em outras partes do Brasil. Sua trajetória começou com a produção de panelinhas e potes de barro para os filhos brincarem. Com o tempo, ela aprimorou suas habilidades e adaptou suas criações. Inicialmente, suas peças eram vendidas para uma cooperativa que se transformou no Centro Mestre Noza, um ponto de encontro para artesãos da cidade.
As obras de Dona Maria Cândido, conhecidas como “temas” ou “placas de parede”, são peças tridimensionais feitas de barro, com formas arredondadas e um estilo único. Muitas de suas obras retratam figuras e cenários do Nordeste, como o Padre Cícero e Lampião, além de manifestações populares como o Reisado e o Maneiro Pau.
A tradição de Dona Maria foi transmitida a seis de seus onze filhos, que seguiram sua vocação para o artesanato em barro. Graças ao seu talento e dedicação, Maria Cândido se tornou uma artista reconhecida nacionalmente, recebendo o título de Mestre da Cultura em 2004, concedido pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Ela sempre dizia que o barro foi sua forma de sobrevivência e sustento para a família. Suas obras estão em coleções públicas e privadas no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.
A história de Maria Cândido também foi registrada no livro Mãos que fazem história, escrito pelas jornalistas Germana Cabral e Cristina Pioner.