Com o objetivo de fortalecer, promover e preservar a cultura alimentar e a biodiversidade de comunidades indígenas do Ceará, a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), por meio do Projeto São José, realiza o Inventariamento da Cultura Alimentar de Povos Indígenas do Ceará. A ação teve início na segunda-feira (29), em reunião virtual com boas-vindas às comunidades participantes do inventário alimentar, que acontece com cinco comunidades indígenas do Ceará, realizada em parceria da Associação Slow Food do Brasil.
A chegada foi com uma roda de conversa com representantes das comunidades indígenas e equipes técnicas do Projeto São José, Projeto Paulo Freire e da Associação Slow Food do Brasil. A cacique do povo Tabajara do Sertão dos Inhamuns, Eleniza Tabajara, que participou do primeiro inventário, destacou a importância desta ação para o seu povo e demais etnias do Ceará. “Para a gente que vive em pleno sertão, esse inventário vem nos mostrar para o nosso o povo Tabajara, com a participação do próprio povo, das licenças, troncos velhos, agricultores, mulheres e jovens. Reconhecemos as práticas dos povos indígenas, a alimentar, a medicina tradicional e ancestral”, afirmou.
Eleniza se disse feliz com a extensão da ação para outros territórios indígenas, entre elas a dos sertões de Crateús. “Tive a honra de fazer parte deste processo nas nossas aldeias. Quando vemos esse inventário, os mais velhos ficam muito felizes em repassar isso para os mais novos. O Projeto São José está de parabéns por abraçar a causa da cultura alimentar dos povos indígenas do Ceará”, acrescentou a liderança indígena.
Projeto vai chegar a cinco comunidades
O Inventariamento Participativo da Cultura Alimentar dos Povos Indígenas do Ceará vai atuar junto a cinco comunidades indígenas beneficiárias de projetos de inclusão econômica sustentável.
São elas: a Associação Comunitária de Chapada I – Comunidade Chapada I e Associação Indígena Tapuya Kariri – Comunidade Carnaúba, no município de São Benedito; a Associação Comunitária do Povo Indígena Tabajara do Sítio São Miguel, em Tamboril; a Associação do Conselho do Povo Indígena Tabajaras de Olho Daguinha – Comunidade Nossa Senhora do Livramento, e o Conselho do Povo Indígena Tabajara de Rajado – Comunidade Rajado, ambas do município de Monsenhor Tabosa.
A ação, que conta com três atividades estratégicas, começa com o planejamento geral participativo. Na segunda fase, será realizado o inventariamento Participativo da Cultura Alimentar Slow Food. O processo será concluído com a elaboração do Plano de Ação para Salvaguarda dos Bens Naturais e da Cultura Alimentar.
Durante o inventário serão coletados e registrados conhecimentos, técnicas, variedades agrícolas, receitas culinárias, celebrações e práticas medicinais. As idas a campo serão antecedidas de adaptações à realidade de cada comunidade. As atividades vão começar com entrevista estruturada seguida por uma breve formação sobre patrimônio imaterial e comunicação popular.
Fortalecimento das comunidades tradicionais
A gerente de Fortalecimento e Gerenciamento do Projeto São José, Karina Holanda, ressalta a importância do projeto para para o fortalecimento das comunidades tradicionais e de seus conhecimentos ancestrais. “O Projeto São José tem como um de seus objetivos fortalecer comunidades tradicionais, entre elas povos indígenas por meio do incremento da segurança alimentar, da implementação de iniciativas de geração de renda, da busca por maior eficiência no uso da água e de maior resiliência às mudanças climáticas”, explica Karina. Para além das questões produtivas, ela adianta que a SDA, por meio do Projeto São José, em parceria com a Associação Slow Food Brasil, vai iniciar a aplicação de ferramentas participativas para o protagonismo dos indígenas, “o qual chamamos de Inventário da Cultura Alimentar”, reforça.
O inventariamento teve sua primeira versão editada em 2022, realizada com as comunidades indígenas Tremembés (Barra do Mundaú) e Tabajaras (Quiterianópolis), uma parceria do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e Slow Food Brasil. Agora em 2024 a SDA amplia essa ação para mais cinco comunidades com apoio do Banco Mundial. No final das atividades serão sistematizados os resultados que servirão de base para fortalecer a sociobiodiversidade local, ações de proteção, conservação e manejo sustentável dos recursos naturais.
Mobilização social e da educação patrimonial
Para a coordenadora de Programas e Conteúdos da Associação Slow Food do Brasil, Lígia Meneguello, a organização terá papel fundamental no projeto. “Estamos muito felizes com a nova parceria entre a Associação Slow Food do Brasil (ASFB) e o Projeto São José/SDA. Viemos em uma aproximação crescente, dando passos pequenos, mas importantes. Agora, tivemos a oportunidade de construir um projeto mais longo e consistente, que vai focar nas trocas com povos indígenas e juventude rural”. De acordo com ela, o trabalho será guiado tendo em vista a importância da mobilização social e da educação patrimonial para a autonomia e a soberania dos povos “e, assim, sendo ponte para acesso a políticas públicas e geração de renda”, disse.
Fonte: Projeto São José/Rones Maciel