A melhora da atividade econômica fez os bancos ampliarem a oferta de crédito neste ano. Segundo pesquisa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), a projeção de crescimento do crédito passou de 13,9% para 14,1%, em novembro. Para 2023, a média das projeções da expansão da carteira total subiu de 8% no levantamento anterior para 8,4%.
O aumento da projeção é um reflexo do comportamento da atividade econômica, que tem crescido mais do que o esperado, segundo Luiz Castelli, gerente de assuntos econômicos da Febraban.
“A gente tem visto um comportamento mais positivo do que o esperado desde o início deste ano. Se pegar as projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), por exemplo, que eram abaixo de 1%, agora passaram para um aumento próximo a 3%. Esse desempenho mais vigoroso da atividade e do consumo tem ajudado, é um reflexo disso. O crédito tem crescido mais também por conta desse desempenho melhor da atividade. O crédito puxa a atividade e a atividade puxa o crédito. Enfim, são duas coisas que andam juntas por conta desse desempenho melhor da economia”, afirma Castelli.
Isso ocorre ao mesmo tempo em que o Banco Central aumentou, ao longo deste ano, a taxa básica de juros, que deverá ser mantida a 13,75% até meados de 2023, como forma de combater a inflação, o que desestimula o crédito, enquanto o governo federal reeditou os programas públicos de crédito, como Pronampe e FGI-Peac, voltados a micro e pequenas empresas.
“De um lado, o Banco Central sobe os juros, mas de outro o governo também estimula o aumento do crédito, principalmente para micro e pequenas empresas, o que tem ajudado a fazer o crédito manter um crescimento bastante positivo neste ano”, avalia o gerente da Febraban.
Ele explica que algumas linhas de crédito têm registrado desaceleração do crescimento, como o segmento imobiliário e de veículos. Mas outras, mais ligadas ao consumo de fato, continuam avançando, como crédito pessoal e cartão de crédito.
A pesquisa, realizada com 20 bancos entre 3 e 8 de novembro, é feita a cada 45 dias, logo após a divulgação da ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), e reúne as percepções das instituições financeiras sobre o documento do Banco Central e as projeções para o desempenho das carteiras de crédito no ano corrente e no próximo.
O levantamento mostra ainda que na carteira com recursos livres a projeção passou de alta de 16,7% (em setembro) para 17,3%. A melhora foi puxada pela carteira pessoa física (de 17,2% para 18,2%), devido ao crescimento da atividade econômica e do consumo, que beneficia linhas como o cartão de crédito e o crédito pessoal. A projeção da carteira de pessoa jurídica ficou praticamente estável comparada à do último levantamento (de 14,5% para 14,3%).
A projeção de expansão da carteira com recursos direcionados também subiu, de alta de 9,3% (em setembro) para 10,2%. A projeção para a carteira pessoa física direcionada passou de 12,8% para 13,1%, devido ao forte crescimento do crédito rural. Já a expectativa de alta da carteira de pessoa jurídica passou de 5,1% para 5,3%, com as projeções se ajustando à nova rodada dos programas públicos de crédito.
Este é o terceiro ano seguido de crescimento de dois dígitos do crédito. Em 2020, o segmento cresceu em torno de 15,5%; no ano passado, um pouco mais de 16%; e, neste ano, deve chegar a quase 15%.
“Nos últimos três anos houve uma injeção muito grande de crédito na economia. Principalmente o destinado às famílias, com a retomada do consumo, de serviços, com a normalização da atividade econômica e a queda do desemprego”, acrescenta Castelli.
Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de gestão financeira da FGV (Fundação Getulio Vargas), a melhora da economia passa também pela disponibilização de crédito. “Toda vez que tem crédito por custo baixo, relativamente razoável, o empresário costuma aproveitar as oportunidades. Tem que casar estas duas coisas: o mercado oferecer oportunidade e uma taxa de juros que seja administrável, mais baixa possível em relação ao que o mercado pode praticar. Isso é sempre muito positivo”, avalia.
A economia, ao crescer, vai também ser abastecida por meio dos serviços e produtos desenvolvidos a partir desse crédito, além do impacto na inflação, porque, com a oferta maior de produtos e serviços, a tendência é cair o preço. “Oferta maior de produtos e serviços controla a inflação. Não só pelo aumento da oferta, mas também pela redução do custo com crédito mais baixo, o que faz com que se produza mais barato.”
As taxas de juros dos bancos têm acompanhado a alta da Selic, já que o custo de captação sobe, e, com isso, aumenta a taxa cobrada das famílias e das empresas. “No entanto, nos últimos meses, o que a gente tem visto já é alguma estabilização desse aumento, do mesmo jeito que a Selic parou de subir”, avalia Castelli.
De acordo com pesquisa do Procon-SP, a taxa média cobrada para empréstimo pessoal em novembro é de 7,4% ao mês, a mesma apurada no mês anterior. No cheque especial, foi de 7,96% ao mês.
Entretanto, a pesquisa da Febraban mostra também que houve piora das expectativas para a inadimplência da carteira livre. Para este ano, a projeção subiu de 3,9% (em setembro) para 4,3%, enquanto para 2023 avançou de 4,2% para 4,6%. Atualmente, a inadimplência dessa carteira está em 4%.
Teixeira avisa que existem limites que devem ser observados pelas pessoas para não terem problemas. “Todas as precauções devem ser tomadas, do ponto de vista das pessoas, para pagar menor taxa de juros possível, porque o grande problema do empréstimo é não conseguir honrá-lo, eventualmente, porque o encargo pode ficar muito elevado e afetar a capacidade de pagamento.”
Fonte: R7