Depois de ter se mudado, em 2014, para os Estados Unidos, Amanda Lima, de 32 anos, não imaginava que seria uma empreendedora. Quase nove anos depois, ela é dona de uma empresa de festas que fatura 700 mil dólares por ano — cerca de R$ 3,6 milhões, na cotação atual do dólar (R$ 5,25). Em média, são feitas 40 festas por mês.
O Grupo Partyland Designs foi criado há cinco anos. Hoje, ele é composto de cinco empresas: uma casa de festas brasileiras, um negócio voltado somente à decoração, que atende o cliente onde ele estiver, outro que faz apenas casamentos com estilo brasileiro, uma loja para a locação de itens decorativos e, por fim, a Amanda Academy, que oferece cursos para os interessados em atuar no mercado. No total, o grupo tem 16 pessoas na equipe, e outras 45 são empregadas de forma indireta.
Desde que o empreendimento começou, Amanda não tirou a mão da massa. “Eu faço tudo: carrego carro, monto, subo na escada. Hoje tenho funcionários que me ajudam, uma gerente que cuida de tudo, mas a linha de frente do braçal eu opero em todas as áreas”, afirma a empresária.
Partyland Designs fica em Orlando e já atendeu vários famosos. Entre eles, Ivete Sangalo, Michel Teló, Thaísa Fersoza, Larissa Manoela, Lorena Impronta, Léo Santana, Ferrugem, Pato, Patrícia Abravanel, Rebeca Abravanel, Vírgina, Zé Felipe, Simone e Simaria.
Amanda começou a ter uma experiência vaga com festas após o nascimento de sua filha. “Depois da gravidez, fiquei sem trabalhar. Para me distrair e superar essa questão de ficar em casa com uma criança e me sentir mais útil, eu comecei a planejar e a fazer os ‘mesversários’ dela. Foi aí meu primeiro contato com festas”, conta.
Mas a entrada da empreendedora no mercado profissional de festas foi de forma inesperada. “Quando a minha filha tinha 1 ano e pouquinho, uma amiga me ligou e disse que precisava de ajuda para fazer um chá de bebê de uma conhecida dela. Ela falou que tinha quatro ursinhos de pelúcia e mais 150 dólares. Eu desmontei a minha casa inteira, peguei a minha sala de jantar, a mesa de cabeceira do quarto, um caixote da lavanderia, peguei um carrinho emprestado, pus tudo dentro e fui para o restaurante. De lá, saí com duas festas para fazer e nunca mais parei. Já faz cinco anos”, relata Amanda.
Nos Estados Unidos há quase nove anos, Amanda Lima, da zona norte de São Paulo, sempre sentiu familiaridade com o país. “A cegonha me derrubou no lugar errado”, brinca a empresária.
O desejo de se mudar aumentou depois de uma viagem turística para os EUA. “Eu estava planejando ir a Nova York, mas aconteceu de o meu marido ser promovido e a gente não poder viajar. Então, a minha madrasta falou para eu mudar a minha passagem e ir à Disney. Minha irmã ia passar férias lá. Quando pisei em Orlando, em 2013, falei: ‘Quero viver aqui’. Liguei para a minha mãe e contei que ia terminar o namoro. Mas, quando cheguei ao aeroporto, ele me pediu em casamento. Aí eu pensei: ‘Lascou. Como é que eu vou falar não para esse homem aqui?’, e aceitei casar”, lembra Amanda.
Mesmo depois de dizer sim, ela não desistiu de se mudar para os EUA. “Em uma das nossas conversas, eu falei que tinha aceitado, mas que queria ir embora. Ele conseguiu que eu ficasse no Brasil. Passaram uns quatro, cinco meses, nós compramos um apartamento juntos. E um dia falei para ele que queria ir embora. Disse que eu iria na frente e ele poderia ir depois, mas ele falou que, se eu fosse, iria comigo. A gente devolveu o apartamento que tínhamos parcelado em muitas vezes e nos mudamos para a casa dos pais dele, moramos por seis meses lá para guardar dinheiro e viajar. Chegamos aqui aos Estados Unidos quando eu tinha 24 anos, em 2014, um dia depois que a gente se casou, só com 1.500 dólares no bolso”, conta.
“Hoje, moro em Orlando, a minha casa é a oito minutos do hotel que eu fiquei hospedada quando vim com minha irmã de férias. Então, passo todo dia em frente ao primeiro contato nos EUA”, completa.
Quando se mudou, Amanda chegou a fritar pastéis e trabalhar em uma loja que vendia produtos para cabelo para se sustentar. “Como todo imigrante, eu já fiz de tudo desde que cheguei aqui”, acrescenta.
Antes de começar no ramo de festas, abrir o próprio negócio não era o sonho de Amanda. “O empreendedorismo nunca esteve nos meus planos; sempre achei que o modelo bem-sucedido para mim seria ser uma executiva dentro de uma empresa, cumprir meu horário de trabalho e ir embora para casa. Quando eu cheguei a Orlando, isso mudou. Aqui não existe essa rotina, tem que fazer de tudo um pouco; caso contrário, não ganha”, explica a empresária.
No Brasil, Amanda tinha uma carreira estabelecida; formada em administração, ela trabalhava em uma construtora. “Eu tinha uma situação estável, ganhava bem. Mas joguei tudo para o alto para vir viver nos Estados Unidos”, afirma Amanda.
Segundo ela, o início do empreendimento começou sem maiores pretensões. “Foi natural. Eu acho que o que me levou à iniciativa de fazer esse primeiro chá de bebê foi ajudar. Ali eu não fui como decoradora, fui como uma pessoa que queria ajudar alguém que estava precisando. Na festa, as pessoas começaram a perguntar se eu trabalhava com isso, a pedir cartão. Então, pensei que isso poderia ser um negócio. Eu vi o caos do outro, fui ajudar e apareceu uma possibilidade de negócio, uma Amanda empreendedora que eu nunca tinha conhecido.”
A coragem para abrir um negócio em outro país veio do desespero para se reinventar. “Era um momento em que não sabia o que fazer; eu tinha uma bebê, não poderia mais começar a trabalhar o tempo inteiro”, conta.
A Partyland Designs, desde que foi aberta, já atendeu uma lista extensa de famosos. A primeira celebridade para quem a empresa trabalhou foi Ivete Sangalo. “Quando eu recebi essa ligação, foi um ‘infarto’. A festa era no dia seguinte já. Um dia depois do evento, me ligaram falando que eu tinha feito uma festa legal para a Ivete e perguntaram se eu não queria fazer outra para o Michel Teló, também já no dia seguinte. Desde então, é muito famoso. Tem gente que liga e fala: ‘Tal celebridade indicou você’”, relata Amanda.
“Ter figuras públicas que com acesso a materiais que você não tem, e mesmo assim se impactam com seu trabalho, é muito gratificante. Mostra que seu trabalho não está no valor da sua peça, está em conseguir aquilo tudo junto, no conjunto geral. Quando me ligam para falar que um famoso quer que eu faça a festa dele, são pessoas a que nunca achei que teria acesso e gostariam da minha arte. Isso é uma parte do fruto que a gente colhe e faz a gente saber que está no caminho certo”, completa a empreendedora.
A empresa se prepara agora para dar mais um passo importante: a primeira festa fora dos Estados Unidos, em Toronto, no Canadá. “Eu tenho muitos alunos espalhados pelo mundo, então, sempre que um cliente nos procura, a gente vai ao banco de dados dos alunos para ver se tem algum naquela cidade e região, e nós indicamos esse aluno”, destaca Amanda.
Apesar do alto faturamento, Amanda esperava uma expansão ainda maior da Partyland antes da crise da Covid-19. “Nós ficamos completamente sem evento por seis meses. A gente tinha uma projeção de crescimento maior, mas a pandemia fez a gente aprender a engatinhar de novo”, afirma. O que ajudou a manter a empresa de festas no período foram os auxílios dados pelo governo.
Por outro lado, com a crise, Amanda viu a oportunidade de oferecer o próprio curso. “Vi que muitas pessoas quebraram devido a informalidade, falta de estruturação e planejamento. Então, desenvolvi o curso para ensinar profissionais a se capacitarem na área e administrarem um negócio. Por isso abri o Amanda Academy”, conta a empresária.
A pandemia levou ainda a Partyland para o ambiente digital. Nesse momento, Amanda percebeu a importância das redes. “A nossa meta agora é impactar o maior número de pessoas que pudermos, no Facebook, Instagram e YouTube, em que acabamos de estrear, e nós vamos dar dicas gratuitas para quem quiser entrar no mercado de festas”, explica.
A principal dica de Amanda para quem quer empreender é: “Tentar descobrir qual o seu propósito, que só é efetivo se estiver impactando e contribuindo para a vida de alguém. Se tiver isso, o dinheiro vem; ele é uma consequência. E se capacite para executar seu propósito da maneira mais correta possível”.
A empreendedora acrescenta ainda que é preciso colocar tudo o que se quer fazer na ponta do lápis. ”Eu acredito muito que o mercado de eventos é muito rico, passa muito dinheiro no nosso mercado; só que, infelizmente, tem gente ainda que está pagando para trabalhar, que não tem controle de caixa. Não tem como um negócio funcionar se não souber quanto gasta, vale e cobra. É bonito fazer decoração, mas, no fim do dia, a sua empresa vale quanto você tem no caixa. Eu tive que aprender na raça, nunca tive essa veia empreendedora. Eu não tenho exemplos de empreendedorismo. Quando descobri a importância disso, estava quase pagando para trabalhar”, completa.
Inovação é outro ponto importante para quem quer começar um negócio próprio. “É necessário personalizar um processo dentro da sua empresa: enquanto está todo mundo brigando para ver quem faz melhor o trabalho, eu estou preocupada demais fazendo o que ninguém faz”, analisa Amanda.
Fonte: R7