O preço dos fertilizantes tem subido de forma considerável no mercado internacional nos últimos anos. E, com a guerra na Ucrânia, a perspectiva é que haja uma maior pressão inflacionária e até falta de abastecimento.
Completamente dependente da importação de fertilizantes, a safra cearense de frutas e hortaliças pode ser prejudicada pela falta do insumo neste ano. Os preços mais altos e dificuldade de acesso ao adubo químico traz problemas de qualidade e produtividade nas colheitas.
Para além da produção agrícola cearense, a questão pode afetar na produtividade de soja e milho, importantes para a produção de ração de bovinos leiteiros e aves. O resultado pode ser um aumento de preços em toda a cadeia, que deve chegar também ao consumidor no produto final.
Conforme o secretário da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará (Sedet), Silvio Carlos Ribeiro, o setor agropecuário cearense conseguiu crescer apesar das altas nos fertilizantes nos últimos anos, mas o contexto geopolítico traz incertezas para os resultados deste ano.
“A expectativa para esse ano era um aumento maior, mas com esse conflito não sei em que grau vai ter um aumento no preço de fertilizantes ou escassez mesmo”, destaca.
Dependência de importações
Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores e exportadores agrícolas, o país tem ainda uma grande dependência de outros países para conseguir fertilizantes. De acordo com o Ministério da Agricultura, hoje 85% dos fertilizantes consumidos no Brasil são decorrentes de importações.
Para o professor titular do Departamento de Engenharia Agrícola da UFC, Claudivan Lacerda, essa dependência torna o principal peso da balança comercial brasileira suscetível a crises globais, como é o caso da guerra na Ucrânia.
A dependência da importação de fertilizantes já tinha se tornado um problema antes mesmo da guerra. Silvio Carlos pontua que, durante a pandemia, problemas de logística internacional e a alta do petróleo levaram a oscilações de preço que não ocorreriam caso houvesse uma produção interna do insumo.
“Temos uma perspectiva ruim de diminuição da oferta e uma expectativa grande de aumento da produção agrícola do Brasil. O Brasil todo começa a se mexer e ficar preocupado. Espera-se um aumento dos fertilizantes em mais de 50%, mas a gente já pensa em problemas que vamos ter para o fornecimento”, projeta.
Segundo ele, quando se fala apenas do Ceará, a dependência da importação de fertilizantes chega a 100%.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), José Amilcar Silveira, considera que essa crise deve perdurar durante todo o ano de 2022.
“Eu particularmente acho que durante esse ano de 2022 vai perdurar a dificuldade de fertilizantes. Espero que em 2023 melhore essa produção de fertilizantes aqui no Brasil. Mas uma coisa boa que eu estou observando é que o Brasil está se movimentando para produzir fertilizantes, então talvez até 2025 vamos ser independentes”, espera.
Efeitos na safra e impacto para o consumidor
Amílcar aponta que o aumento nos preços prejudica a produtividade e qualidade da colheita sobretudo de pequenos produtores – que compõem maioria no estado.
“Nós já temos esse problema há aproximadamente um ano. Afeta a produção diretamente, porque muitos produtores não conseguem comprar. Diminui a produtividade”, destaca.
No Ceará, quem sofre mais é a produção de frutas e hortaliças, carro chefe do estado no que diz respeito ao maior valor agregado. Segundo Silvio Carlos, a avicultura e a criação de bovinos leiteiros também devem sentir o impacto do aumento de preços ou até falta dos fertilizantes.
Esse aumento nos custos deve, invariavelmente, chegar ao consumidor.
Alternativas
Silvio destaca ser necessária uma movimentação para reduzir a dependência dos adubos químicos importados. No Ceará, a Usina de Itataia, em Santa Quitéria, pode ser uma solução para a produção de fertilizantes fosfatados.
O presidente da Faec afirma que a usina deve ter produção ativa até 2025. Segundo ele, o fosfato extraído poderá atender a demanda de 75% do Nordeste.
Enquanto soluções para produção própria de fertilizantes não estão disponíveis, Claudivan defende o uso de adubos orgânicos e um manejo do solo planejado para otimizar os plantios.
“Outra alternativa seria melhorar o manejo do solo, para utilizar da forma mais eficiente, utilizar adubo orgânico, que pode substituir. São coisas que tem que se analisar para diminuir o custo de produção”, defende.
Fonte: Diário do Nordeste