A Sindicância da Prefeitura de Fortaleza que apurou as irregularidades na vacinação do cantor Wesley Safadão; da esposa, a influenciadora Thyane Dantas; e da produtora Sabrina Tavares Brandão, identificou que a facilitação para a imunização do cantor e da produtora fora do local previstos inicialmente, e da influencer, que sequer estava agendada, deu-se na triagem no posto de vacinação, no North Shopping Jóquei.
Nenhum dos três teve o agendamento conferido e todos foram conduzidos por dois funcionários terceirizados diretamente para o espaço de vacina, onde ocorria aplicação de dose única da Janssen. A facilitação ocorreu, conforme evidências da Sindicância, às quais o Diário do Nordeste teve acesso, por solicitação de uma servidora municipal da área da saúde.
Conforme já divulgado, a averiguação realizada pela gestão municipal resultou na instauração de Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) no caso da servidora, cujas iniciais são J. M. O. S. e os funcionários terceirizados J. L. A. F. e D. F. S. foram devolvidos à empresa de origem e não têm mais contrato com a Prefeitura.
A servidora envolvida não fazia parte da equipe de vacinação neste posto, mas teria atuado ligando para uns dos terceirizados no dia da imunização do casal e da produtora.
Com base nos depoimentos, nas imagens das câmeras de segurança fornecidas pelo shopping e no registro de conversas em aplicativos, os documentos da Sindicância traçam um passo a passo do dia da ocorrência.
CONFIRA REGISTROS INDICADOS NA SINDICÂNCIA:
- Nome: Wesley Oliveira da Silva
Data de nascimento: 06/09/1988
Data de cadastro: 08/06/2021
Data de agendamento: 08/07/2021
Local: Centro de Eventos do Ceará – Salão Taíba, 12h
Data de atendimento: 08/07/2021, 10h09min
Vacina tomada: Janssen
Lote: 211A21A
- Nome: Thyane Dantas Oliveira
Data de nascimento: 18/02/1991
Data de cadastro: 23/06/2021
Data de agendamento: Não houve
Data de atendimento: 08/07/2021, 10h10min
Vacina tomada: Janssen
Lote: 211A21A
No dia 8 de julho, conforme indicado na averiguação da Prefeitura, 17 pessoas estavam escaladas e integravam a equipe de vacinação no local. O terceirizado D. F. S. era o supervisor da imunização. O outro, J. L. A. F., integrava a equipe da triagem.
Antes de Wesley e as demais pessoas que o acompanhavam chegarem ao local, foi informado à equipe, segundo depoimentos, que o supervisor e o terceirizado da triagem seriam os responsáveis por receberem as pessoas que estivessem com a vacina agendada, mas não fosse para aquele posto, como ocorreu com Wesley. Foi indicado, segundo os depoimentos, que esse procedimento seria aceito ainda que o agendamento fosse para outro lugar, contudo, esses casos seriam separados na triagem.
PROCESSO DE VACINAÇÃO TEM 3 ETAPAS:
- Triagem: etapa na qual, dentre outros, deve ser checado se a pessoa está cadastrada, está na lista, devem ser conferidos documentos como RG e CPF, se faz parte do público-alvo em questão, e entrega do comprovante de residência.
- Registro: após a triagem, o público é encaminhado para que as informações sejam inseridas no sistema digital, é confeccionado o cartão de vacina e há encaminhamento para a fila da vacina.
- Vacinação: devem ser conferidas as informações que constam no cartão com a pessoa a ser vacinada, com ênfase nas relacionadas às questões de saúde.
Conforme a Sindicância, mesmo sem a triagem inicial, Wesley, Thyane e Sabrina foram conduzidos para a segunda etapa. Nesse processo, tanto a registradora das vacinas, como a aplicadora, em depoimento à Sindicância explicam o procedimento realizado, e informaram que como eles haviam passado pela triagem, não desconfiaram de irregularidades.
As pessoas ouvidas também mencionam que, por serem figuras públicas, houve um certo deslumbramento com a presença dos dois. Além disso, ao menos dois depoimentos reiteram que, no caso de Thyane, a mesma confirmou ter 31 anos, mesmo a idade verdadeira sendo 30 anos.
Nesta quarta-feira (15) o Diário do Nordeste tentou contato com os três profissionais apontados na sindicância como sendo os responsáveis pela facilitação do acesso à vacinação. Os dois terceirizados não quiseram se pronunciar sobre o assunto. Já a servidora não atendeu às ligações. A assessoria de Wesley Safadão informou que o cantor não irá comentar o caso.
O QUE DISSERAM OS INVESTIGADOS À SINDICÂNCIA?
D. F. S., supervisor do centro de vacinação no momento da vacinação de Wesley e Thyane, foi ouvido ao menos duas vezes pela sindicância. No dia 9 de julho e no dia 11 de agosto. Na hora da ocorrência, ele estava ajudando na triagem.
Em depoimento, informou que foi conferida a documentação necessária de apresentação do envolvido e não foi checada a documentação de Thyane. Ele visualizou o comprovante de agendamento no celular do Wesley, mas, segundo ele, “devido à alta demanda no local não foi possível verificar no Vacine Já o local de agendamento”.
Ele sustenta o argumento que o local estava lotado. Contudo, essa afirmação é contestada pela sindicância a partir dos demais depoimentos e das imagens do local. D.F.S disse ainda não ter conhecimento sobre a vacinação da produtora, Sabrina.
Já no dia 11 de agosto, ele reafirmou que o fluxo estava intenso na chegada de Wesley e reiterou que o deixou entrar no local, pois ele estava agendado. Mas, segundo o supervisor, informou que a acompanhante deveria aguardá-lo fora do centro de vacinação, mas ela teria acompanhado Wesley. Ele acrescentou que em nenhum momento foi realizada a checagem do agendamento de Thyane.
Embora tenha dito que não reconheceu, a princípio, tratar-se de uma figura pública, D. F. S., assim como o outro terceirizado, relatam ter feito fotos com Wesley na saída.
Já o outro terceirizado afastado, J. L. A., foi ouvido nos dias 26 de julho e 11 de agosto. Ele informou que o fluxo de usuários era baixo no local no momento da vacinação de Wesley.
Na sindicância, o depoente foi confrontado com imagens das câmeras de segurança. J. L. A., segundo registros dos documentos, conduz Sabrina à vacinação, mas em depoimento ele diz não se recordar o motivo de ter convidado Sabrina para o setor de vacinação. Também afirmou não se lembrar porque ela não passou pela triagem e foi direto para o registro.
Em depoimento no dia 13 de agosto, a servidora J. M. O. S., que atua no setor de imunização da Coordenadoria Regional de Saúde III, disse que no dia 8 de julho recebeu uma ligação de uma usuária que queria informações sobre qual procedimento deveria ser feito se perdesse o dia vacinação e que a mesma pessoa ligou novamente depois perguntando onde encontrava o terceirizado J. L. A.
A servidora, conforme os documentos, informou ainda que ligou para ele dizendo que “um pessoal iria procurá-lo” e que ele disse que poderia encaminhar para o shopping. Ela afirmou não ter relação de amizade com ele e que esta teria sido a primeira vez que ligou para J. L. A.
APURAÇÕES CONTINUAM
A Sindicância da Prefeitura apurou as responsabilidade administrativas, mas tanto o casal quanto a produtora do cantor, Sabrina Tavares, são investigados também pela Polícia Civil do Ceará após a abertura de um inquérito na Delegacia de Combate à Corrupção (Decor), e Thyane e Wesley são alvo de apurações do Ministério Público do Ceará (MPCE).
O resultado da sindicância aponta que agentes públicos poderão responder criminalmente por corrupção passiva privilegiada, conforme o Código Penal, caracterizado quando o funcionário público pratica ato de ofício com infração do dever funcional atendendo a pedido ou influência de terceiro.
Os fatos apurados e as provas colhidas na esfera administrativa pela Prefeitura devem ser comunicadas tanto à Polícia Civil quanto ao MPCE.
Fonte: Diário do Nordeste