Os chamados problemas periodontais, quando uma bactéria leva à inflamação da gengiva, aumentam risco de infecção em caso de intubação pela doença
A saúde bucal é um importante fator na saúde do corpo, explica a cirurgiã dentista Lucia Cappellette, da ABO (Associação Brasileira de Odontologia). “As pessoas precisam entender que a saúde começa pela a boca, se você, no pior cenário, pegar a covid-19, é importante que esteja saudável para combater essa doença.”
Ela explica que tratamentos em andamento precisam ser finalizados, mas que é sempre importante buscar orientação do profissional para saber o que é melhor em cada caso. “Eu poderia dizer que consultas de rotina e a profilaxia [conhecido popularmente como limpeza] pode esperar, mas se é um paciente que tem problema periodontal [problema dentário causado por bactérias que levam à inflamação da gengiva] e ele for intubado, pode gerar uma infecção.”
Segundo Lucia, por falta de higienização da boca durante a internação é comum ocorrerem infecções no período de intubação. “Em alguns casos, podem se proliferar bactérias e essa bactéria migrar para o pulmão, e aí que corpo aguenta uma pneumonia bacteriana junto com a covid-19?”
O cirurgião dentista José Vitor Dal Medico conta que seus pacientes mais idosos estão deixando de ir ao dentista, provavelmente, por medo de contaminação e recomenda que os tratamentos em andamento não devem ser postergados.
Lucia explica que tratamentos de canal, por exemplo, que são interrompidos no meio podem gerar abscessos, quando as bactérias que estão dentro do canal invadem outros tecidos, como os ósseos. “O rosto fica inchado, é uma infecção bem perigosa e pode até virar uma infecção generalizada.”
Para ela, os tratamentos que podem esperar são os estéticos, como aplicação de facetas, lente de contatos e clareamento. “Acho que o único que não daria para esperar é a colocação de prótese, é muito desconfortável ficar com o dente faltando.”
Ela alerta que em caso de fratura dentária é importante receber uma avaliação do dentista. “Se for algo simples, pode fazer apenas um polimento para não machucar a mucosa e deixar a restauração para depois. Mas a fratura pode ser mais profunda, estar em um tecido cariado e até ser necessário extrair o dente, pois pode ser um foco de infecção, dependendo da fratura.”
Lucia explica que os dentistas já possuem um cuidado com biossegurança, mesmo antes da pandemia. “Existem outras doenças, nós lidamos com a boca do paciente, então precisamos ter um cuidado muito grande, não precisa ter medo de ir ao dentista.”
Para evitar a contaminação no atendimento, os dentistas fazem a desinfecção da sala a cada paciente, aumentando o intervalo entre uma consulta e outra. Além disso, eles utilizam equipamento de proteção que inclui máscara no modelo pff2 ou tripla, face-shield (viseira), óculos de proteção, touca e avental descartável.
O dentista pode optar por utilizar pijama cirúrgico ou um avental de pano por baixo do descartável. Alguns também utilizam proteção para os sapatos ou então deixam um sapato reservado apenas para uso no consultório.
Para o paciente, a orientação é que ele lave as mãos assim que chegar, não encoste as mãos no rosto, tire a máscara com cuidado e guarde em um saquinho reservado apenas para isso.
“As pessoas muitas vezes jogam a máscara na bolsa, ou colocam no bolso, no mesmo lugar onde coloca dinheiro, cartão, chave. Você pode contaminar sua própria máscara assim”, explica Lucia.
Ela acrescenta que caso a pessoa tenha qualquer sintoma, ela não deve sair de casa nem se consultar.
Os dentistas afirmam ter percebido um aumento em quadros de bruxismo no período da pandemia. “Eu tratei algumas fraturas dentárias por conta de tensão e estresse”, acrescenta Lúcia.
O bruxismo possui, na maioria das vezes, causas emocionais como estresse e ansiedade. Ele é caracterizado pelo apertamento e ranger dos dentes que acontece, em 80% dos casos, enquanto o paciente dorme.
“Se a pessoa sentir algum desconforto, dor de dente, ou se sentir os sinais do bruxismo como musculatura tensa, dor na região do masseter [músculo localizado entre a mandíbula e a maxila], dor de cabeça e no pescoço ou os dentes mais sensíveis, ela deve procurar um dentista”, acrescenta Vitor.
No longo prazo, o bruxismo pode ocasionar perda estrutural dental, dificultando a mastigação, facilitar fraturas dentais e gerar uma inflamação na polpa do dente, explica o dentista.
“Se você já está fazendo o tratamento de um dente, e eles está com um curativo, por exemplo, e aí você tem um aumento desse bruxismo por conta do estresse, do trabalho em casa, um dia muito tenso, ou uma mordida mais forte que você dá, isso pode causar uma fratura”, explica Lucia.
Segundo Vitor, o tratamento é feito por meio de placas miorrelaxantes e aplicação de botox. “A placa é utilizada para dormir, não deixa os dentes desgastarem e gera conforto. O botox é aplicado no masseter [músculos da mastigação] para diminuir a potência muscular.”
A dentista conta que uma de suas pacientes, que teria que fazer uma placa para dormir, conversou com ela e preferiu deixar a placa para depois da quarentena. “Por isso a importância de falar com o seu profissional. Ela vai evitar tensões, evitar ver telejornal antes de dormir, procurar relaxar e controlar o bruxismo, mas cada caso é um caso.”
Escovas devem ser trocadas após doenças
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Para evitar novos problemas, os dentistas enfatizam a importância da higienização adequada dos dentes. “É fundamental para a pessoa conseguir se manter longe do dentista por um período”, afirma Vitor.
Lucia conta que percebeu uma diminuição da frequência de higienização durante a quarentena e que, com isso, os pacientes estão com mais placa bacteriana. “Eles acabam admitindo. Como ficam o dia inteiro em casa, estão trabalhando em casa, acabam escovando os dentes apenas uma ou duas vezes por dia.”
O indicado é que a escovação seja feita no mínimo 3 vezes por dia, 30 minutos após as refeições. “A saliva tem um papel importante para ajudar a eliminar algumas partículas de comida.”
Ela explica que é importante fazer a escovação, com um creme dental escolhido com auxílio do dentista e passar fio dental. “A necessidade de usar ou não enxaguante bucal e qual vai ser escolhido tem de ser decidido junto com o dentista, cada paciente tem uma necessidade diferente.”
“Todas são importantes, mas a escovação feita antes de dormir precisa ser impecável.” A dentista explica que além de passarmos um período longo sem escovação, quando dormimos a nossa salivação diminui, o que facilita a proliferação de bactérias.
Outra dica dada pela dentista é que, após ficar doente, os pacientes troquem a escova de dentes. “Seja uma inflamação na garganta, um herpes bucal, uma gripe ou a própria covid-19, é importante trocar a escova depois da resolução da doença, pois você pode se reinfectar, ou no caso de dividir o banheiro com outras pessoas, infectar as pessoas da sua casa.”
Fonte: R7