Cientistas confirmaram três casos de reinfecção pelo novo coronavírus, mas ainda não e possível mensurar o impacto disto na busca por uma vacina
Cientistas confirmaram três casos de reinfecção pelo novo coronavírus em Hong Kong, na Bélgica e na Holanda. Pesquisadores de Hong Kong afirmam que uma vacina contra a covid-19 não deve ser capaz de proteger para a vida inteira, mas ainda não é possível saber quais as dimensões do impacto dessa descoberta na busca por um imunizante contra a doença.
De acordo com a infectologista Ingrid Cotta da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o grande desafio é descobrir fatos novos sobre a covid-19 ao mesmo tempo em que se tenta desenvolver uma vacina eficaz e segura contra a infecção.
“Estamos diante de uma doença nova e de um vírus novo. É diferente de já conhecer a história natural de uma doença e as regras do jogo”, destaca.
Para confirmar um caso de reinfecção de um paciente, os cientistas devem ser capazes de demonstrar que os códigos do RNA viral no primeiro e no segundo contágio registrado são diferentes um do outro.
Na Bélgica, uma mulher foi reinfectada três meses após a primeira infecção. “Fomos capazes de examinar geneticamente esse vírus em ambos os casos e temos dados suficientes para determinar que se trata de outra estirpe”, afirmou o virologista e conselheiro de saúde do governo Marc Van Ranst.
Ingrid pondera que a questão é saber se essas diferentes linhagens do coronavírus respondem da mesma maneira às vacinas.
Rosana Richtmann, integrante do comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, ressalta que vacinas desenvolvidas a partir do RNA menssageiro são mais adaptáveis a um novo tipo de vírus.
“Em teoria, se funcionar, é mais fácil de adequar ela para um novo vírus do que a do Butantan”, compara. “Seria [necessário] mais um ajuste nesse RNA, já no outro caso teria que fazer uma vacina nova”, acrescenta.
A vacina desenvolvida pela Pfizer é um exemplo de imunizante feito à base de RNA mensageiro. Essa molécula entra na célula e fornece a ela as informações necessárias para a produção de uma das proteínas que compõem o novo coronavírus. Essa proteína será reconhecida como um corpo estranho e assim estimulará a resposta imunológica.
.Já a Coronavac, do Instituto Butantan e da empresa chinesa Sinovac Biotech, é feita com o novo coronavírus inativado, isto é, morto a partir de processos físicos e químicos. Assim, o vírus não consegue se replicar, mas faz com que o sistema imunológico reaja e crie os anticorpos necessários.
Rosana afirma, no entanto, que a confirmação de pacientes com reinfecção pelo coronavírus não deve afetar o desenvolvimento de vacinas.
“A princípio, não vejo grande impacto para a vacina. Primeiro, a gente ainda não sabe nada sobre a eficácia de vacina. Enquanto não acabarem a fase 3 [etapa que comprova se a vacina é realmente eficaz para proteger contra a covid-19], não dá para saber qual será o impacto”, analisa.
“Caso a vacina não consiga dar uma resposta adequada, pode ser um problema no sentido de ter que revacinar anualmente [as pessoas], como acontece com o vírus da gripe”, completa.
Ingrid, por sua vez, ressalta que o imunizante não trará o controle imediato da pandemia mesmo que obtenha sucesso na fase 3. Portanto, ainda será preciso praticar as medidas de prevenção contra o coronavírus.
“O controle não vai acontecer com uma vacina, de um dia para o outro. Vai passar por um combo de ações durante muito tempo, como isolamento e uso de máscara. Até a gente entender o impacto da vacina na população, a partir dos grupos prioritários, vamos ter que adotar essas medidas”, analisa.
Rosana avalia ainda que o novo coronavírus deve se tornar endêmico. Isso significa que ele será detectado com certa frequência em determinada região ou população “com épocas em que ele tem menor e maior circulação”, descreve a médica.
As especialistas concordam que os casos confirmados de reinfecção afastam a ideia de imunidade de rebanho, quando a maior parte das pessoas de uma comunidade já se tornou imune a ao vírus por ter sido infectada e desenvolver imunização natural, o que impede a propagação da doença.
Entretanto, há um aspecto positivo: a possibilidade de reforçar o sistema imune. “Cada vez que eu me exponho ao vírus, o sistema imune produz mais anticorpos, então pode ser positivo”, explica Rosana.
O paciente de Hong Kong, um homem de 33 anos, não apresentou nenhum sintoma de covid-19 após a segunda infecção e a mulher reinfectada na Bélgica tem um quadro leve, sem necessidade de hospitalização, o que poderia indicar esse fortalecimento.
Já o paciente holândes é um idoso com sistema imunológico “debilitado”, segundo especialistas. Mas não foram dados detalhes sobre seus sintomas.
Fonte: R7