Para uma grande legião de trabalhadores que exercem funções com algum grau de risco, como manuseio de produtos químicos ou combate a incêndios, o estresse é uma rotina do ofício. A boa notícia, no entanto, é que a automação tem ajudado, cada vez mais, as pessoas a evitarem o contato direto com atividades que representam perigo de graves lesões físicas ou até morte.
É o caso, por exemplo, do projeto da Central Integrada e Inteligente para Proteção, Avaliação e Alarmes (CIIPAA), que foi desenvolvido pela empresa cearense Armtec, especializada em soluções de automação e robótica. Através de sensores e controles eletrônicos, o recurso é capaz de monitorar os equipamentos usados no combate ao fogo, permitindo que operadores humanos controlem tudo à distância, em uma sala protegida e longe das chamas. O CIIPAA é resultado de um trabalho que contou com o apoio da Funcap através do edital Inovafit. A Armtec também recebeu suporte, como empresa incubada, da Universidade de Fortaleza (Unifor).
De acordo com a Armtec, a solução foi criada para melhorar outro recurso também desenvolvido por ela e já em operação. Trata-se do Sistema de Monitoramento e Acionamento Automático de Bombas de Combate a Incêndio (SABCI), que faz o acionamento automático de um conjunto de bombas de incêndio com base em variações da pressão interna da rede de água.
Eficiente para evitar o deslocamento de brigadistas para ligar as bombas (além do risco de vida para os funcionários, a necessidade deles irem até cada acionador atrasava o combate, principalmente em empresas de grande área física), o uso do SABCI apresentou um novo problema: “não havia segurança quanto ao fato gerador da queda de pressão”, explica a Armtec. Ou seja, não era possível identificar se a diminuição de pressão havia sido causada por abertura de algum hidrante para o combate a incêndio ou por vazamentos na tubulação.
Para solucionar esse problema, as principais inovações tecnológicas do CIIPAA, segundo a Armtec, foram a inserção de novos sensores (como detectores contínuos do nível de água, por exemplo), um sistema de identificação de vazamentos na rede, um sensor de proteção contra descargas elétricas atmosféricas e um nobreak específico para a alimentação do sistema eletrônico de controle (garantindo o seu funcionamento mesmo com queda de energia).
Uma das características do CIIPAA, que é composto de um módulo físico e os softwares de controle, é sua capacidade de integração. Ele permite, por exemplo, que o trabalho remoto de combate ao incêndio seja acompanhado e executado via internet em tempo real. Além disso, através de inteligência computacional, dados colhidos de sensores servem como base para desconectar subestações de energia elétrica (com exceção das que alimentam os equipamentos de combate a incêndio) para prevenir o surgimento de novos focos.
Por fim, explica a Armtec, “como o parque industrial possui diferentes tecnologias já existentes, mas não automáticas, o CIIPAA é integrável a diferentes equipamentos e pode ser aplicado de forma parcial”. O produto também é interligado com o CACI (Canhões Automáticos para Combate a Incidentes), – um robô móvel com o qual o brigadista ou bombeiro, ao invés de ter que estar na zona de fogo manuseando os canhões, pode operá-los por um joystick ou pelo computador a partir da sala de controle.
No rack onde ficam os circuitos eletrônicos do CIIPAA, é possível colocar, na parte externa, leds indicadores de todos os equipamentos integrados ao sistema. Assim, o operador vai saber o que está operando e desligar ou ligar cada um conforme a necessidade. “O CIIPAA, quando instalado em conjunto com o SABCI, permite ações mais rápidas na tentativa de combate ao fogo, permitindo ações efetivas dentro dos cinco primeiros minutos”, garante a Armtec.
Além disso, destaca a empresa, da sala de controle, onde os brigadistas irão atuar no combate ao incêndio, há possibilidade de localizar os focos de fogo com menor nível de pânico. O sistema também permite mais agilidade, porque os os robôs com os canhões de água, sem a presença de nenhum brigadista na área que está sob risco, podem funcionar de forma sincronizada para abafar e esfriar o local para permitir a extinção do fogo.
Entenda a importância da automação
Os sistemas que acionam as bombas para combate a incêndios precisam ser testados, semanalmente, por um período entre 15 a 30 minutos para assegurar que estarão prontos para atender a qualquer necessidade. A automação na checagem atua tanto no funcionamento de equipamentos e de softwares quanto na tubulação e nas bombas. Vazamentos, por exemplo, podem causar perdas de pressão que levam ao acionamento das bombas. Os sensores diminuem esse risco, ajudando a identificar que não foi a detecção de um incêndio e sim a perda de pressão que levou o sistema a entrar em funcionamento.
Os sensores de nível de água para incêndio representam outro recurso importante. Segundo a Armtec, quando ocorre algum incidente, “há formação de pânico e detalhes como a checagem do nível de água podem passar despercebidos, provocando danos para as bombas e paralisação das atividades de combate ao incêndio”. Essa falha, explica a empresa, já seria suficiente para deixar o fogo chegar a temperaturas muito elevadas, fazendo com que nada mais possa ser feito a não ser ações de resfriamento e espera pela extinção do incêndio através da queima total do material inflamável.
De acordo com a Armtec, a função do controle automatizado de bombas já está sendo aplicada em quatro unidades de empresas no Brasil, nas cidades de Crato (Ceará), Recife (Pernambuco), São Luís (Maranhão) e Belém (Pará). Já em relação às funções que dependem do pacote de inteligência artificial do equipamento, a empresa informa que todos os estudos e testes já foram concluídos e houve produção científica de artigo sobre os resultados, mas ainda não há previsão para início de operação.
O coordenador do projeto, Roberto Macêdo, ressalta que nos testes realizados, a principal contribuição detectada com o emprego da inteligência artificial foi a redução de falsos positivos, dando mais precisão ao sistema de detecção e combate aos incêndios. “Em casos de atuação no setor de petróleo e de materiais inflamáveis, esse fator é ainda mais crítico, pois há elevado risco de explosão e expansão rápida do fogo, com o risco de perda do controle”, explica.