Alunos denunciam cursos profissionalizantes no Recife por ‘golpe do emprego’

Jovens em busca de emprego denunciaram que foram vítimas de um golpe, no Recife. Eles relataram que fizeram inscrição em cursos de qualificação com a promessa de uma vaga garantida, mas, na verdade, não havia emprego. A Delegacia do Consumidor abriu um inquérito e investiga o caso .

O estudante José Wagner Alves recebeu uma ligação para participar de um processo seletivo. “Eles diziam que chegaram até nós porque tínhamos feito inscrições em sites de emprego. Fui pensando que era uma entrevista e que teria uma oportunidade”, contou.

Após a realização de uma prova, a empresa disse que seria preciso fazer um curso de capacitação por um ano e que eles começariam a trabalhar durante o curso, relataram os jovens. As vagas que surgiram para eles, no entanto, eram no próprio local das aulas. “Só recebi R$ 100. Diziam que a empresa estava em um momento ruim e ficavam adiando”, disse Alves.

Ezequiel de Santana pagou pelo curso e trabalhou na própria empresa, mas afirmou que nunca recebeu salário. “Nada é como a gente pensa. Falaram que eu pagaria a primeira parcela com o meu dinheiro e que as demais seriam pagas com o dinheiro do meu trabalho, mas eu não recebi nada e até agora não me deram uma posição”, relatou.

O esquema foi identificado também pelo Procon, que recebeu mais de 30 reclamações. “Eles ofertam, tentam vender os cursos com essa promessa de garantia de vaga de emprego e isso não é concretizado”, disse a secretária-executiva de Defesa do Consumidor, Mariana Pontual.

De acordo com o Procon, três empresas trabalhavam juntas. O local foi interditado e as empresas foram notificadas por propaganda enganosa.”Elas ficam se revezando de forma a prejudicar o controle, a fiscalização pelos órgãos do consumidor. Eles vão mudando de nome, abrindo e fechando empresa”, declarou a secretária-executiva.

CRH Trainee, Moraes RH e RJVM foram as empresas identificadas e notificadas, segundo o Procon. A Polícia Civil apontou que as três mudaram de local após a notificação do órgão de defesa do consumidor. “Nós localizamos essas pessoas com um novo endereço, já providenciamos a intimação do responsável e vamos fazer a ouvida”, disse a delegada Beatriz Gibson.

Entre os documentos que foram entregues à polícia, estava um contrato de curso em que aparece o nome de duas das empresas: Moraes RH e CRH Trainee, identificada como parceira. O CNPJ da Moraes RH aparece no canto do papel, mesmo número que aparece em uma solicitação de cancelamento – mas, nesse caso, a empresa seria a CRH.

O contrato do curso dizia que não há garantia de emprego, diferentemente do que foi dito aos alunos. Ainda assim, os responsáveis podem ser punidos.

“Sempre que o consumidor for induzido a erro, sempre que é feita uma afirmação falsa, sempre que não é explicado ao consumidor em língua portuguesa, em grafia portuguesa, em palavras claras, isso incide no código de defesa do consumidor”, afirmou a delegada.

Respostas
O advogado Assiel Fernandes, representante da Moraes RH, afirmou que a empresa oferece apenas cursos gratuitos, mas que as salas são alugadas para outras pessoas jurídicas. Ele negou as acusações dos alunos e do Procon.

“O que a empresa faz é dar assessoria, pegar esse pessoal e preparar para que possam ter o estágio em algumas empresas parceiras. Nós vamos levar as informações claras de que seu Moraes não tem responsabilidade com o que está acontecendo”, declarou.

A CRH Trainee afirmou que não é agência de emprego e nunca ofertou vagas de trabalho a ninguém, mas disse garantir o encaminhamento de todos os alunos de seus cursos a vagas de empregos disponíveis no mercado para empresas solicitantes, quer seja como empregado ou estagiário.

A empresa apontou, ainda, que se comprometeu a devolver integralmente o que o aluno pagou pelo seu curso, se por acaso, não seja encaminhado para vagas de trabalho e estágio disponíveis no mercado. A CRH afirmou, também que deixa claro que a admissão do aluno acontecerá somente se seu mérito recomendar, segundo critério estabelecido pelo empregador.

Fonte: G1.com