Suspeito de matar a empresária Jamile de Oliveira Correia, o advogado Aldemir Pessoa Júnior, agredia a mulher com frequência, de acordo com depoimento dado nesta terça-feira (17) pelo filho da vítima, de 14 anos, conforme apurou a reportagem do G1. A morte da empresária com um tiro no peito, ocorrida no dia 31 de agosto, ainda está em investigação sob as hipóteses de suicídio ou feminicídio.
O caso teve início no dia 29 de agosto, em um condomínio de luxo, no Bairro Meireles, em Fortaleza. Imagens gravadas por câmeras de segurança mostraram o advogado agredindo a empresária dentro de um carro e, depois, carregando a mulher já baleada até o elevador do prédio. Após a descoberta dos vídeos, Aldemir passou a ser considerado suspeito de feminicídio. Ele tem antecedentes criminais por um disparo de arma de fogo em 2005 que quase atingiu uma criança.
O relato do filho adolescente foi inconclusivo sobre a origem do disparo que atingiu Jamile. Depois de ouvir barulhos durante a discussão entre a mulher e Aldemir, o filho da vítima entrou no closet do apartamento. Ele não soube dizer quem segurava a arma e quem foi responsável pelo disparo.
Adolescente pulou de carro durante briga
Houve ainda um outro momento, dias antes da morte, em que Aldemir agrediu Jamile em um restaurante do Bairro Varjota, em Fortaleza. Funcionários do restaurante tentaram intervir e acabaram discutindo com o advogado.
A polícia civil convocou uma testemunha que estava no estabelecimento para depor. Ela confirmou a agressão.
Outra amiga da empresária contou ao G1 que o casal vivia um relacionamento abusivo e o principal interesse do advogado na relação era no patrimônio financeiro da mulher.
Câmeras registraram agressões
A investigação que envolve a morte da empresária cearense Jamile de Oliveira Correia teve reviravolta no dia 2 deste mês, data seguinte ao sepultamento da mulher que completaria 47 anos nesta quarta-feira (18). Indícios levantados fazem a Polícia Civil do Ceará considerar o advogado Aldemir Pessoa Júnior suspeito.
O advogado disse ao G1 que não houve assassinato e ele não tinha interesse no patrimônio da empresária, como relatou uma familiar de Jamile Oliveira.
Segundo o filho de Jamile, a mãe já sofria agressões de Aldemir há meses. Em uma das ocasiões, em um sítio, Jamile teve o cabelo puxado várias vezes, sendo ofendida pelo namorado. Um outro episódio aconteceu quando o jovem estava no carro com o casal, com Aldemir dirigindo em alta velocidade e discutindo com Jamile. Com medo, o adolescente decidiu pular do carro.
No início da madrugada do dia 30, câmeras de segurança do prédio registram que ela sai carregada pelo namorado e o filho. A vítima estava com um hematoma no olho e uma mancha de sangue no peito.
Jamile foi deixada pelo namorado no Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza, e morreu às 7h do dia 31 de agosto. Apesar da gravidade do caso, o homem não contou aos familiares sobre o estado de saúde da empresária e também não acionou a polícia.
Versões diferentes sobre atendimento
Os dois médicos que atenderam Jamile quando ela chegou ao IJF na noite do tiro também depuseram nesta terça-feira (17) e apresentaram versões diferentes sobre o caso.
Janio Cordeiro Barroso, médico plantonista da emergência do hospital, disse à polícia que a vítima afirmou ter tentado se suicidar. Logo depois da chegada dela à unidade, os técnicos de enfermagem afirmaram que ela não falava nada. Contudo, ela teria respondido o médico quando ele se aproximou. “O depoente botou a mão na cabeça dela e perguntou: ‘O que houve?’; ela respondeu: ‘Isso foi um tiro que eu mesma dei em mim’”, consta no termo de depoimento de Janio Cordeiro, ao qual o G1 teve acesso.
O médico disse ainda não ter certeza se outro profissional do hospital ouviu Jamile dizer que tinha atirado em si própria.
Por sua vez, o cirurgião Jamil Zarur, também chamado a depor, afirmou que teve dúvidas quanto à versão da tentativa de suicídio alegada pelo namorado da vítima, o advogado Aldemir Pessoa Júnior. O médico percebeu que a posição do ferimento era de um disparo vindo de cima para baixo.
“Achei estranha a trajetória do projétil. Mas ela estava muito calma e geralmente quem tenta suicídio se comporta dessa forma, fica mais calada. Ela estava consciente, mas não falou nada”, contou o profissional do IJF em entrevista à imprensa, na saída da delegacia em que prestou depoimento.
Fonte: g1.com