Cineasta espera recursos para filme sobre Parnaíba: ‘personagens estão morrendo’

Vinte cineastas esperam há um ano e meio a liberação de recursos de um edital realizado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult) em 2017. A espera é tanta que alguns dos projetos têm perdido personagens, como o documentário idealizado pelo cineasta Danilo Carvalho, que resgata parte da história da cidade de Parnaíba através de vídeos recuperados da década de 1940: quase metade dos idosos que seriam entrevistados pelo cineasta morreu durante a espera.

G1 procurou a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), que não se posicionou sobre a demora na liberação dos recursos do edital.

O projeto de Danilo Carvalho nasceu de um resgate. Um tio do cineasta guardava três latas com rolos de filme como grandes tesouros. As latas tinham mais de 80 anos, e foram guardadas por gerações na família. Danilo contou que depois de muita insistência conseguiu convencer o tio a revelar o material. “Quando abrimos uma delas o filme estava estragado. Só depois disso que ele aceitou me ceder o material”, contou.

“Ele me passou os filmes porque sou o primeiro da família, em gerações, a realmente se interessar em trabalhar com cinema. Eu sustento minha família fazendo filmes”, disse Danilo, que mora em Parnaíba.

Dentro das duas latas remanescentes, Danilo encontrou 20 minutos de imagens da cidade de Parnaíba. A partir de então, o cineasta trabalhou em um projeto de um documentário que aproveitasse o tesouro para registrar e discutir esse fragmento de memória de uma das maiores cidades do estado.

Para criar seu filme, Danilo Carvalho contou ao G1 que entrevistaria pessoas que moraram em Parnaíba na década de 1940, época em que os filmes encontrados nas latas foram filmados. Entretanto, durante o tempo em que o cineasta espera pelo financiamento, pelo menos um terço dessas pessoas já faleceram.

O filme de Danilo Carvalho, que se chama ‘Parnahyba: As janelas olham devagar’, foi o primeiro selecionado no edital de projetos audiovisuais, aberto em 2017, mas até agora não começou a ser realizado. A espera se aproxima dos dois anos, sem que nenhum dos 20 filmes selecionados tenha recebido os recursos, que variam de R$ 58 mil a R$ 1 milhão por produção.

“Eu fui prejudicado porque confiei no edital. Sete pessoas morreram nesse período, quase metade dos meus personagens. Pessoas que eu tinha como centrais para o filme”, disse Danilo Carvalho. “São pessoas com idades de até 80 anos. E não podemos esperar para sempre. Logo essas pessoas não vão mais estar aqui”, destacou.

Os personagens são testemunhas da história de Parnaíba, como o médico cardiologista Carlos Araken, escritor, cronista, poeta que ocupava a cadeira 23 da Academia Parnaibana de Letras; a pianista Dalva Couto, primeira mulher a voar no hidroavião que fazia rota em Parnaíba; e o engenheiro químico Flávio Caracas, que instalou o primeiro poste de energia elétrica na cidade.

Dois anos de atraso

Ao todo, são 20 projetos já prontos de filmes a serem produzidos por cineastas e produtoras piauienses que esperam desde o final de 2017. Os produtores receberiam ao todo R$ 6 milhões, sendo R$ 2 milhões oriundos do Governo do Estado e R$ 4 milhões do Fundo Setorial de Audiovisual, cedido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine).

De acordo com o cineasta Thiago Furtado, que está entre os selecionados, o grupo de cineastas contemplados pelo edital tentou conversar diversas vezes com a Secult e com a Secretaria de Fazenda (Sefaz), mas até agora não conseguiu a liberação do recurso.

O resultado da seleção foi divulgado em dezembro de 2017. Em janeiro de 2018, veio a confirmação do edital no Diário Oficial do Estado do Piauí. O valor foi autorizado pela Procuradoria Geral do Estado.

“Disseram que em fevereiro sairia, mas até agora nada. Dizem que a situação do estado está ruim, mas não temos culpa. Se está, por que fizeram o edital sem ter o dinheiro na conta? Por que não fizeram só quando tivessem?”, disse Thiago Furtado.

Para o cineasta, as produções seriam de grande valor para a consolidação de uma cultura de audiovisual no estado que ainda tem participação tímida a nível nacional.

“Acho uma perda gigante de criatividade, de material humano, de aprendizado principalmente, e contar nossas histórias. Estamos perdendo a chance de botar o nome do Piauí de vez no cinema nacional”.

 Fonte: g1.com