Menina baiana com ‘ossos de vidro’ ganha cadeira de rodas de presente, um ano após escrever carta para Papai Noel

As tradicionais canções natalinas dizem que o Papai Noel não esquece de ninguém nessa época do ano. Para uma família baiana, a afirmação se concretizou.

A pequena Patrícia Kelly de Jesus da Paixão não anda e sonhava com uma cadeira de rodas. O desejo foi atendido após uma corrente de um grupo que se mobilizou para fazer uma surpresa para a garota e presenteá-la com o equipamento. O caso foi divulgado nas redes sociais na terça (25).

Patrícia Kelly tem 6 anos e mora com os pais no bairro da Conceição, em Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador. Ela tem osteogênese imperfeita, uma doença rara e incurável que se caracteriza pela fragilidade óssea.

“Recebi o diagnóstico ainda na gestação. Quando ela nasceu, já tinha sofrido doze fraturas dentro do útero”, conta a mãe dela, a dona de casa Jucélia de Jesus Nascimento.

Menina de 6 anos que tem 'ossos de vidro' ganhou cadeira de rodas de presente — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Menina de 6 anos que tem ‘ossos de vidro’ ganhou cadeira de rodas de presente — Foto: Greyce Coli/Divulgação

A menina, que se locomove rastejando, já teve uma cadeira de rodas, mas ficou pequena para ela. Além disso, não era adaptada, o que dificultava a vida escolar da garota. “Ela não tinha apoio para os braços, mal conseguia pegar no lápis. Além disso, a carteira não tem o suporte que ela necessita, especialmente nas laterais. A qualquer momento ela Patrícia poderia cair e sofrer mais uma fratura”, detalha a mãe.

Por causa desses problemas, no final de 2017, elas escreveram juntas uma carta para o Papai Noel, pedindo uma cadeira de rodas adequada para as necessidades da criança. A correspondência foi entregue pessoalmente para Luís Alberto Hobst, que é aposentado, mas trabalha como Bom Velhinho há 11 natais.

Surpresa foi proporcionada por empresário de Feira de Santana — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Surpresa foi proporcionada por empresário de Feira de Santana — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Infelizmente, naquele ano não foi possível realizar o sonho da menina. Ele guardou o papel e pensou no desejo da garota ao longo do ano, mesmo sem ter condições financeiras para realizá-lo.

“Eu ficava triste com a possibilidade de ela voltar e me perguntar sobre a cadeira. Sei que é difícil atender todo mundo, mas não queria decepcioná-la e ficava mexido com isso”, relata.

Luís foi chamado pela fotógrafa Greyce Coli para fazer um trabalho e falou para ela a história da menina, de forma despretensiosa. “Perguntei para ele como era o trabalho, se ele se divertia, se emocionava com as histórias, essas coisas. Então ele contou a história da cartinha e comecei a pensar em uma forma de ajudar”, afirma Greyce.

Garota precisa de cadeira de rodas especializada para se locomover — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Garota precisa de cadeira de rodas especializada para se locomover — Foto: Greyce Coli/Divulgação

No dia seguinte, ela encontrou com um amigo e contou, por acaso, sobre o que tinha escutado. O empresário Bruno Leal imediatamente decidiu comprar a cadeira de rodas e doar.

“A gente vê tanta criança pedindo coisas supérfluas e ela queria uma cadeira de rodas para poder estudar, para viver com mais tranquilidade. Isso me sensibilizou e resolvi ajudar”.

Para aumentar a magia, o Papai Noel Luís foi chamado para fazer a entrega, que ocorreu no último domingo (23). Para atrair a garota, Greyce a convidou para fazer um ensaio fotográfico em estúdio. Após as fotos, o Papai Noel chegou de surpresa com a cadeira e a emoção tomou conta de todos no local – inclusive dos pais de Patrícia, que presenciaram a cena.

Garota é portadora de doença rara e incurável chamada osteogênese imperfeita — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Garota é portadora de doença rara e incurável chamada osteogênese imperfeita — Foto: Greyce Coli/Divulgação

O momento foi registrado também pela publicitária Larissa Falcão, que gravou e editou um vídeo. “Nunca tinha vivido algo parecido na minha vida. Vou lembrar para sempre daquele sorriso e dos olhinhos dela brilhando”, lembra. “Ela ficou muito feliz! Pulava, gritava, abraçou e beijou o Papai Noel…E a gente foi contagiado, é claro. Foi lindo de verdade”, diz Greyce, com a voz embargada.

Luís conta que sempre ouve histórias e lê cartas tocantes, mas nunca tinha recebido um pedido semelhante a este.

“Eu já me emocionei muito como Papai Noel, mas desta vez foi diferente. Mal consegui segurar as lágrimas. Sou só um aposentado que gosta de brincar com a criançada e é muito gratificante saber que, de alguma forma, ajudei alguém que precisasse tanto”.

Rotina

Paty, como é carinhosamente chamada, disse que está mais feliz com o presente, pois agora consegue brincar com menos preocupação e vai conseguir aprender mais na escola. “Eu senti uma coisa muito boa no meu coração quando vi o Papai Noel chegando com a cadeira. Realizei o meu sonho”, diz.

Fotógrafa fez ensaio com garota para entrega do presente — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Fotógrafa fez ensaio com garota para entrega do presente — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Filha única de um casal humilde, ela é descrita como uma menina brincalhona, alegre e inteligente, mesmo diante das dificuldades. “Ela é encantadora, um exemplo de vida. Na verdade, quem ganhou o presente fomos nós, que pudemos ver a felicidade dela e auxiliamos uma família inteira, contribuir para a saúde e o futuro de uma criança”, diz Bruno Leal.

O pai de Patrícia trabalha, mas a mãe precisou deixar o serviço de diarista para se dedicar em tempo integral aos cuidados com a filha. “Eu fico atenta o tempo inteiro para ela não se machucar, porque é muito frágil mesmo. Até a fisioterapia foi suspensa, porque ela estava se quebrando em vez de melhorar”, detalha.

Fotógrafa, pais de Patrícia, Papai Noel, Larissa e o empresário Bruno Leal reunidos — Foto: Greyce Coli/Divulgação

Fotógrafa, pais de Patrícia, Papai Noel, Larissa e o empresário Bruno Leal reunidos — Foto: Greyce Coli/Divulgação

A tensão aumenta quando a garota faz alguma cirurgia reparadora, o que é constante – a última foi realizada há um mês.

“Eu cuido mais dela do que de mim. Com a cadeira, a rotina em casa vai ficar menos pesada”, diz Jucélia.

O equipamento deve ser usado por cinco anos e precisa ser trocado à medida em que a criança cresce.

“Esse foi o melhor Natal da nossa família. Eu nem acreditei que poderia ser verdade, porque passou um ano e não recebemos nenhum retorno. Isso mostra que nunca devemos perder a nossa esperança”, declara Jucélia.

 Fonte: G1