A rotina da pequena Júlia Titara, 12, é muito diferente da dos seus amigos da escola e da maioria das crianças da mesma idade. Ganhar destaque no universo de mini miss, conquistar o título de melhor do mundo e lidar com mais de 20 mil seguidores nas redes sociais, parcerias com lojas de roupas e campanhas publicitárias não é tarefa fácil.
“Eu sei conciliar ser mini miss e ser criança. Minha família me ajuda muito nisso. Até hoje, brinco de boneca e saio com meus amigos. Mas, sinto que estar nas passarelas faz parte da minha missão”, disse Júlia, em entrevista ao G1.
A paixão pelas coroas entrou por acaso na vida de Júlia, que é de Marechal Deodoro, região Metropolitana de Maceió, em 2015.
“Eu entrei no concurso porque sou muito fã de uma atriz que participou do Mini Miss Alagoas 2015. Pedi para a minha mãe, mas o valor da inscrição era por volta de R$ 1 mil e ela disse que não tinha condições financeiras. Pedi pro meu pai e ele me inscreveu. Me apaixonei por tudo que vi e vivenciei”, relatou.
Desde então, ela acumula mais de sete títulos, entre eles o de Miss Brasil Mundial Infantil 2017, quando se tornou a melhor do país. O mais recente foi o de Miss Mundial Infantil 2018, conquistado por Júlia no último fim de semana, no Peru.
“Minha bisavó que já faleceu, uma pessoa muito especial pra mim, falava sempre que eu seria Miss Mundo. Fiz isso por ela e pelo meu primeiro treinador, que também faleceu. Não era só o meu sonho, era o sonho deles, da minha mãe e de toda a minha família”, contou.
A preparação para o evento durou pouco mais de um ano. “Treinei passarela sozinha e diariamente posicionava um tripé com o celular encaixado no corredor do prédio onde moro para assistir a vídeos de misses com dicas no YouTube”, disse, mostrando a altura de 15 cm do salto alto.
Júlia Titara, 12, diz ter treinado passarela para o concurso Miss Mundial Infantil 2018 sozinha e assistindo a vídeos no YouTube — Foto: George Arroxelas/G1
Rotina de estudante e mini miss
No dia a dia, Júlia vai para a escola de manhã e quando chega em casa, faz os deveres e trabalhos e deixa um tempo reservado para estudar mais. Depois, ela treina passarela e maquiagem e tenta separar uma hora para cada prática.
“Faço isso todos os dias da semana, só não quando estou muito cansada ou tenho muitos afazeres da escola. Quando se aproxima dos concursos, conto com amigos que me ajudam muito, pessoas que entendem do universo e me auxiliam, como maquiadores e costureiras, que às vezes são até mães de colegas mini misses”, explicou.
Mesmo encantada pelo mundo da competição em muitos aspectos, Júlia lembra que também há muita desonestidade.
“No Miss Brasil, me empurraram da escada e colocaram o pé para eu cair. Isso tudo para ganhar a faixa. Se eu ficar triste, vai ser pior porque vão ver que está me afetando. Se for pra chorar, eu choro em outro canto, mas não na frente deles. Esse mundo tem suas coisas boas e ruins, tem amizades verdadeiras e falsas. Mas tenho muitas amigas misses ao meu lado”, contou.
Futuro dentro ou fora das passarelas?
Quando perguntada sobre o futuro, a menina diz que sonha em ser psicóloga e que vai dar um tempo das passarelas para focar mais nos estudos.
“Quando acabar esse meu reinado, eu vou parar um pouquinho para focar em seguir minha profissão dos sonhos. Fico muito triste com as altas taxas de jovens com depressão e quero ajudar como puder. Mas, quem sabe futuramente eu volte para as passarelas?”, disse.
Por enquanto, Júlia não pode se inscrever ou participar de nenhum concurso no período de um ano, já que carrega o mais atual título de melhor do mundo.
“Mesmo parando um pouco com esse universo de miss, vou continuar com o meu canal no YouTube”, disse. Na plataforma de vídeos, Júlia conta com mais de 1 mil assinantes e interage com crianças de todo o país.
E as dicas não ficam só para os seguidores da internet. Ela faz o possível para ajudar garotas que a abordam na escola com o mesmo sonho.
“Inspiro meninas da minha escola que me pedem dicas. Uma amiga já veio me pedir treino de passarela, tinha o sonho de ser miss plus size, e eu passei um bom tempo mostrando o que conhecia. É muito bacana”, falou a mais nova melhor do mundo.
Júlia Titara é recepcionada por familiares, amigos e fãs ao aterrissar em Maceió, Alagoas após conquistar o título de Miss Mundial Infantil 2018 — Foto: Júlia Titara/Arquivo pessoal
Quanto às premiações, Júlia diz que não ganha muito dinheiro, e que arrecada mais com comerciais e participando de alguns eventos, com cachês.
“Assim como minhas redes sociais, minha família supervisiona e cuida de todo o dinheiro. Com o que ganho, minha mãe tira metade do dinheiro para investir nas competições e a outra metade fica pro meu futuro e para eu me divertir”, certifica.
Antes de ganhar o título no Peru, a trajetória foi de dedicação e esforço. O tio da menina, Fabyano Titara, foi com a sobrinha vender doces e rifas.
“Tivemos que fazer levantamento do dinheiro, já que tudo é custo. Os turistas se encantaram pela história”, relatou.
Agora, Júlia vive o sonho tão almejado e aproveita o seu reinado. “Pessoas me abordam na rua, me reconhecem. Fico feliz porque sou tão nova e inspiro várias crianças a seguirem seus sonhos. Isso faz meu dia ser 100% mais feliz”, complementa.
No Peru, Júlia Titara posa com a bandeira de Alagoas após conquistar o título de Miss Mundial Infantil 2018 — Foto: Júlia Titara/Arquivo pessoal
Júlia Titara faz homenagem a cidades do Brasil com pinturas no traje que usou no desfile temático do Miss Mundial Infantil 2018, no Peru — Foto: Júlia Titara/Arquivo pessoal
Fonte: G1