A popularidade de Kêu Salvador nas redes sociais nasceu depois que ele compartilhou um áudio no WhatsApp, em abril deste ano. O que era para ser um simples desabafo com amigos, vazou para outras pessoas e se tornou motivo de riso. No áudio, que viralizou, o baiano relata uma discussão que se envolveu na rua. Contudo, as expressões nada convencionais aliadas à forma como ele fala e interpreta as situaçãos, espontaneamente, lembram um personagem humorístico.

O G1 separou algumas das expressões que aparecem nas mensagens, explicadas por Kêu:

• Barra vento: “ocasião que antecede o momento em que uma pessoa incorpora uma entidade”;
• Colocar na bandeira de tempo: “é quando uma pessoa expõe a outra”;
• Xoxona: “pessoa que gosta de expor os outros, mas tem segredos”;
• Bequeira: “pessoa sem princípios, que gosta de fazer as coisas erradas a seu favor”;
• Xexeira: “é uma pessoa mentirosa, que gosta de inventar desculpas”;
• Nevralgia no trigêmio: “inflamação da sinusite”;
• Pirangueira: “pessoa que compra e não paga; caloteira”
• Botadeira de boneco: “pessoa que gosta de tirar onda; ser melhor que os outros”
• Paracá: “mulher que gosta de confusão”;
• Marmoteira: “charlatão, mentiroso”

“Eu mandei o áudio na lista de distribuição de amigos. Eu tinha o intuito de contar o que tinha acontecido. Não foi um personagem. Eu falo assim. Só que o povo começou a rir. Eu desliguei o celular e vim para casa. Depois, eu fui comprar pão e os vizinhos começaram a comentar e brincar sobre o que eu tinha falado. Quando liguei meu celular, o aparelho até travou de tanta mensagem. Já tinha espalhado em Salvador e o povo me perguntava se era meu mesmo, se minha voz era assim”, contou Kêu.

Entre o primeiro áudio áudio e os seguintes, cresceu a curiosidade das pessoas sobre quem era o dono da voz. Morador do bairro Caixa D’Água, em Salvador, Kêu tem 31 anos e é cartomante. Mas, antes disso, o baiano trabalhava em um escritório de administração, área na qual é formado há quase 10 anos.

“Hoje, o que as pessoas mais relatam é o meu vocabulário escrachado, mas é verdade. As pessoas usam máscaras sociais, mas como eu já quebrei isso, eu abro a boca mesmo. É por isso que tenho aceitação. Nunca imaginei que teria essa repercussão”

Kêu Salvador deixou o antigo emprego para, nas palavras dele, “ser feliz”. O baiano conta que, após buscar ajuda profissional, entendeu que não era em um escritório o lugar onde queria estar. Kêu diz que o antigo trabalho o impedia de ser ele mesmo porque precisava agir dentro dos padrões empresariais para continuar no emprego.

“Eu era extremamento criticado. Tinha que me comportar de uma forma que não sou. Sempre fui muito podado. Diziam que o meu jeito não combina com os cargos que eu tinha. Em algum momento, eu acreditei realmente que tinha algo de errado comigo”, contou Kêu.

A mudança na vida do baiano ocorreu após a morte da mãe dele, em 2014. Aos 61 anos, a idosa não resistiu após complicações provocadas por um derrame cerebral. Com a perda, a depressão, que afligia Kêu desde 2013, piorou. A busca por ajuda foi necessária e o resultado surgiu em 2017, quando o baiano passou a trabalhar para ele mesmo.

“Eu tive que ressignificar os meus valores. Eu sabia que eu tinha uma vida, mas ela não me deixava feliz. Eu fui todo certinho, mas eu não era feliz. Para eu ser feliz, eu tive que ser quem eu sou de verdade. Não conseguia ficar trancadinho em uma sala. Larguei meu emprego, onde eu ganhava muito bem, para viver de cartomancia. Eu fiz um acompanhamento externo, eu fui entender quem sou eu, derrubei padrões e tudo isso foi me ajudando” relatou Kêu.

Há quase um ano atuando como cartomante, na casa onde mora com um irmão, Kêu conta que está realizado. O baiano até criou um canal no YouTube para divulgar o trabalho. Com o sucesso após os áudios, ele passou também a usar a ferramenta para divulgar seus comentários sobre coisas do cotidiano.