Alta do dólar pressiona preço do diesel

A desvalorização cambial das últimas semanas deve levar a um aumento no preço do diesel na próxima sexta (31), quando se inicia uma nova etapa do programa de subvenção ao combustível. Nos últimos dias, com o dólar mais alto, o subsídio de R$ 0,30 concedido pelo governo tem sido insuficiente para cobrir a diferença entre o preço interno e as cotações internacionais.

Congelado desde o fim de maio, o preço de venda por refinaras e distribuidoras –chamado de preço de comercialização– terá que ser revisto no dia 31, de acordo com a MP (Medida Provisória) que estabeleceu a terceira fase do programa de subvenção, criado no fim de maio para pôr fim à paralisação dos caminhoneiros.

A partir de sexta, o preço será calculado com base em uma nova fórmula. A previsão era que ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) apresentasse, na noite desta segunda (27), o chamado preço de referência do diesel -uma espécie de simulação, que serve como parâmetro para o valor do combustível praticado pelas empresas caso não houvesse congelamento. Até a conclusão desta edição, o valor ainda não havia sido divulgado.

A fórmula considera o valor, em dólares, do diesel entregue em seis portos brasileiros e custos de importação. Após sugestões do mercado, a ANP incluiu na conta gastos com movimentação e armazenagem nos portos e transporte até os mercados consumidores.

A fórmula anterior, que poderia reduzir o preço, foi criticada por Petrobras e importadores sob o argumento de que inviabilizaria importações em um período de alta demanda pelo combustível.

A ANP disse que só divulgará o novo preço de comercialização do diesel na sexta. De acordo com a MP, ele deve ser igual ao preço de referência menos o desconto de R$ 0,30 por litro garantido pelo programa de subvenção.

Ao resultado dessa subtração são acrescidos eventuais créditos às empresas em caso de diferença superior a R$ 0,30 entre o preço interno e a cotação internacional no mês anterior, o que já vem ocorrendo há cinco dias, diante da escalada do dólar.

Entre sexta (25) e segunda (27), o preço de referência para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, era de R$ 2,5503 por litro, o maior desde o início do programa de subvenção. É superior também ao valor vigente antes do início dos descontos “” no dia 22 de maio, o preço médio da Petrobras atingiu o pico de R$ 2,3716.

Assim, os R$ 0,30 prometidos pelo governo têm sido insuficientes para cobrir todo o desconto, já que o preço de comercialização para as regiões Sudeste e Centro-Oeste é de R$ 2,1055. Ou seja, as empresas estão sendo obrigadas a vender diesel a um valor R$ 0,44 inferior ao que poderiam estar praticando caso não houvesse congelamento.

A diferença de R$ 0,14 será incluída no cálculo do valor de venda pelos próximos 30 dias do programa. “O preço do dia 30 vai ser pressionado duas vezes: uma, pela fórmula nova e outra, pelo fato de o preço atual estar bem abaixo do internacional”, diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O programa de subvenção completa três meses esta semana, ainda sob críticas de distribuidores e importadores de combustíveis, que veem intervenção excessiva do governo no mercado e reclamam de atrasos no ressarcimento às empresas.

Até o momento, a ANP liberou recursos para apenas quatro companhias, em um total de R$ 215 mil, referentes ainda à primeira fase do programa. Não foram liberados recursos da segunda fase, que se encerrou no dia 31 de julho. A ANP alega que está analisando os documentos.

As empresas reclamam ainda da proposta da ANP para a divulgação das fórmulas de preços dos combustíveis, atualmente em consulta pública.

“O ideal seria que não houvesse intervenção nenhuma”, diz o presidente da Plural, entidade que reúne as distribuidoras, Leonardo Gadotti.

Ele alerta que o governo deveria se preparar para o fim do programa, no dia 31 de dezembro. “O governo montou uma bomba-relógio com data para explodir. No dia 1º de janeiro, o preço terá que subir R$ 0,30 de uma só vez”, diz o executivo.

BR DISTRIBUIDORA

Com uma estratégia de melhorar sua rentabilidade após a oferta de ações em bolsa, a BR Distribuidora, controlada pela Petrobras, passou a praticar preços do diesel mais altos do que a concorrência.

A conclusão é de levantamento feito pelo banco UBS com base em dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) sobre o preço de venda dos postos de gasolina do país.

Os dados mostram que o preço médio dos postos com bandeira BR ultrapassaram o praticado pela Ipiranga em outubro de 2017 e manteve-se mais caro até junho, quando começou o programa de subvenção e todas as empresas reduziram seus valores.

No fim de setembro, o conselho da Petrobras autorizou o lançamento de ações da BR Distribuidora, realizado em dezembro, que entregou a investidores privados 28,75% do capital da empresa.

Entre setembro e maio, o preço médio dos postos BR subiu mais do que os da concorrência: 14,32%, contra 13,77% da Ipiranga e 13,51% da Shell, marca operada pela Raízen combustíveis, associação entre a empresa anglo-holandesa e a brasileira Cosan.

As diferenças de preços entre as empresas são pequenas, mas para os autores do levantamento, os analistas Luiz Carvalho e Gabriel Barra, os dados mostram que a BR vem priorizando suas margens, já que seus postos apresentaram os maiores valores durante a maior parte de 2018.

No balanço do segundo trimestre, a BR foi a única a apresentar aumento de margem, em relação ao mesmo período do ano anterior, com alta de 8,7%, para R$ 50 por metro cúbico. O valor, porém, ainda é inferior aos R$ 69 da Ipiranga e R$ 87 da Cosan.

Em nota enviada à reportagem, a companhia disse que não comenta sua política de preços, “mas reafirma o compromisso de adotar políticas que garantam competitividade a sua rede, melhorando os seus resultados e atraindo novos postos para a bandeira Petrobras”.

Em relatório, os analistas do UBS dizem que, mesmo com preços mais altos do que a concorrência, a BR vem mantendo sua fatia de mercado durante o ano, com cerca de 30% das vendas. A Raízen também não teve grandes mudanças, mantendo-se em torno de 20%.

Já a Ipiranga ganhou participação, de 17,7% no início de 2017 para 19,6% em julho de 2018. Segundo fontes do setor, a companhia adotou uma política comercial mais agressiva, para tentar recuperar perdas em anos anteriores.

Segundo dados da ANP, as três empresas concentravam, ao fim de 2017, 73% das vendas de óleo diesel no país. Com informações da Folhapress.

Fonte: notícias ao minuto