Com trabalho voluntário, mulher alfabetiza centenas de crianças e adolescentes em Maceió

Sexo frágil. Um termo antigo para se referir às mulheres, mas que não se aplica à dona Cícera Benedita. Casada e mãe de 13 filhos, ela ainda encontra tempo para cuidar de mais de 280 crianças e adolescentes da Creche Escola Jesus de Nazaré, que ela fundou há mais de 30 anos, no Tabuleiro dos Martins, parte alta de Maceió.

Neste Dia da Mulher, 8 de março, o G1 mostra um história de superação. Como a única mulher entre seis irmãos e sem apoio do marido conseguiu pôr em prática o sonho de levar educação às crianças carentes da região.

“Eu era evangélica. Estava participando de um ciclo de oração quando uma irmã disse que eu ia ter uma obra com crianças nas minhas mãos. Comecei a ir em busca da minha missão”, contou Dona Cicinha, como é conhecida na vizinhança.

Hoje, toda a família ajuda no trabalho, que começou em 16 de setembro de 1982, em um galpão abandonado utilizado por pessoas para uso de drogas e abrigo de famílias sem-teto. Mas no início era somente ela.

Com apenas um fogão a lenha dentro do galpão, Dona Cicinha ia de porta em porta pedindo alimentos e ajuda da comunidade para a construção do espaço infantil. Na época, ela era funcionária da prefeitura da capital e usava seu salário para suprir algumas necessidades.

“Viram que eu estava fazendo um trabalho sério, que eu queria ajudar e fazer o bem ao próximo e as crianças, aí as autoridades cederam o lugar para mim”, disse ela.

A estrutura do galpão ainda está de pé, mas agora há três salas de aulas, despensa, cozinha, refeitório, quatro banheiros, sala de computação, brinquedoteca e multimídia para atender a 282 crianças e adolescentes, de 7h às 16h30.

“Tive alunos que hoje são empresários e que me ajudam quando eu peço, como também muitos alunos que cresceram para o lado ruim e não estão mais com a gente. Mas eu fiz minha parte e mostrei o caminho certo, dei educação. Hoje é mais fácil ir para o mundo das drogas do que arrumar emprego”, falou.

Com o tempo, o número de voluntários aumentou. São 13, desde professores, mães e avós de alunos, que ajudam na limpeza e na preparação dos alimentos, doados por grupos de igrejas, faculdades e programas socais do governo.

Creche tem salas de aula, de computação, multimídia, cozinha, despensa e pátio pra recreação (Foto: Salvelina Lins/Arquivo pessoal)Creche tem salas de aula, de computação, multimídia, cozinha, despensa e pátio pra recreação (Foto: Salvelina Lins/Arquivo pessoal)

Creche tem salas de aula, de computação, multimídia, cozinha, despensa e pátio pra recreação (Foto: Salvelina Lins/Arquivo pessoal)

Uma das voluntárias mais antigas é Dona Nena, que trabalha no local há 20 anos. “Cuidei da educação de meus filhos aqui e agora estou cuidando dos meus netos, Matheus e Laísa, que fazem reforço”.

Salvelina Lins é nora da Dona Cicinha, e também faz trabalho voluntário na creche. “Não tinha como eu me afastar desse trabalho tão lindo que ela faz. Me senti engajada. Mesmo se eu não estivesse casada com o filho dela, acho que estaria aqui da mesma forma. A alma dela é jovem, acolhedora. Sou muito grata por tudo”.

Hoje, a fundadora da creche é aposentada do serviço público, e passa boa parte do dia em busca de recursos para a melhoria da creche, que já oferece aulas para o maternal, jardim I e II, alfabetização e reforço. Além dessas, a creche oferece um sopão solidário, distribuído para as mães dos alunos.

“Sou um instrumento nas mãos de Deus. A salvação do Brasil é a educação porque, se você não cuidar das crianças de hoje, como é que vai ser o futuro? Se o país está desse jeito é porque não teve a base, que é a educação”, ressaltou.

Filha de Cicinha cursa pedagogia e dá aula para as crianças do Jardim II (Foto: Matheus Tenório/G1)Filha de Cicinha cursa pedagogia e dá aula para as crianças do Jardim II (Foto: Matheus Tenório/G1)

Filha de Cicinha cursa pedagogia e dá aula para as crianças do Jardim II (Foto: Matheus Tenório/G1)

Dona Nena trabalha como voluntária no preparo das refeições dos estudantes (Foto: Matheus Tenório/G1)Dona Nena trabalha como voluntária no preparo das refeições dos estudantes (Foto: Matheus Tenório/G1)

Dona Nena trabalha como voluntária no preparo das refeições dos estudantes (Foto: Matheus Tenório/G1)

Fonte: G1 nordeste