O chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Josleito Kehrle do Amaral, afirmou, nesta quinta-feira (6), que a fisioterapeuta Tássia Mirella de Sena Araújo, 28 anos, encontrada morta na quarta-feira (5) no flat onde morava, foi vítima de violência sexual e tortura. Ela levou ainda uma facada no pescoço. Durante coletiva de imprensa, na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Zona Oeste do Recife, o policial declarou que o vizinho da vítima, preso horas depois do crime, é o responsável pelo crime. (Veja vídeo acima)
“Não temos dúvida disso. Ela foi barbaramente torturada, estuprada, teve a roupa arrancada violentamente e morta com o corte profundo no pescoço. Foi um crime premeditado”, declarou. O suspeito é comerciante e lutador de artes marciais.
O crime aconteceu na quarta-feira (5), em um flat, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Tássia morava no local há quatro meses. De acordo com a polícia, o corte no pescoço foi tão profundo que a vítima quase foi decapitada. A faca ainda não foi localizada.
Para Joselito, não há dúvidas por conta da quantidade de provas contra o suspeito. No corpo da vítima, foram encontrados resíduos de pele sob a unha, cabelos pretos e compridos na sua mão e lesões de defesa próprios de uma intensa luta corporal.
Foram achadas, ainda, gotas de sangue da vítima do seu apartamento até a residência do suspeito, pegadas de sangue compatíveis com o tamanho do pé do vizinho e uma mancha de sangue na porta dele. Uma camisa encharcada de sangue foi jogada do apartamento do homem.
O suspeito também tem arranhões nos braços. Sem confessar a autoria, ele teria alegado aos policiais que as marcas eram fruto de uma briga com um flanelinha, na madrugada da quarta.
Joselito do amaral afirmou que houve uma intensa luta corporal entre o suspeito e a vítima. “Ela gritou por socorro. Foi um crime bárbaro. A motivação era manter relações sexuais com a jovem. Identificamos cabelos do suspeito nas mãos dela e marcas de defesa”, declarou.
A polícia contou com a ajuda de um chaveiro para abrir a porta do vizinho. No apartamento, os policiais o encontraram deitado na cama só de cueca. “Ele estava, nitidamente, fingindo que estava dormindo com os braços na altura dos olhos. Nesse momento, observei os arranhões e uma mancha de sangue nas pernas dele”, pontuou o delegado Francisco Océlio.
A polícia investiga, agora, se o suspeito teria abordado de forma indevida outras moradoras. “Uma mulher disse que percebeu que alguém a filmava com um celular enquanto tomava banho. O celular parece muito com o celular do suspeito”, decalrou o delegado.
Os exames sexológicos estão sendo feitos no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife. Ao fim do inquérito, o suspeito poderá responder por feminicídio, motivo torpe e sem possibilidade de defesa da vítima.
“O crime sexual sempre tem uma premeditação. Sobretudo, quando a pratica do crime é feita por pessoas próximas. Certamente, que ele já nutria um desejo por ela. Mirella era uma mulher muito bonita. O suspeito chegou a dizer que só a viu duas vezes no saguão do prédio. Isso nos leva a crer que ele premeditou. Não há como ele não ter premeditado”, observou Océlio.
Os peritos explicaram como foi feito o trabalho. Nesta quinta, eles voltaram ao prédio. “Encontramos vestígios de sangue, com ajuda do luminol, na pia da cozinha, no piso da casa e no banheiro do suspeito. Justamente, na tentativa dele de se livrar das provas. Tudo bate e amarra para o autor”, disse o perito criminal Diego Costa.
Velório e sepultamento
Horas antes da coletiva da polícia, Tássia Mirella foi velada, em Santo Amaro, na área central do Recife. O clima foi de muita tristeza e revolta. Ativistas, familiares e amigos foram se despedir e pedir justiça. Colegas leram um manifesto, em frente ao local, falando sobre a luta da vítima contra o feminicídio.
Sob uma salva de palmas e um discurso emocionado, realizado pela mãe, o corpo de Tássia Mirella foi sepultado por volta das 11h25. Centenas de pessoas, ao mesmo tempo, entoavam gritos de “justiça” e lamentavam a morte de mais uma mulher vítima do machismo em Pernambuco.
Com rosas brancas e vermelhas nas mãos, os amigos e familiares deram o último adeus a Mirella, que, até a morte, lutou pelo fim da violência contra as mulheres. O nome da vítima foi escrito, pelos familiares, com um batom vermelho.
“Levaram um pedaço de mim. A gente tem que ir para a rua brigar, porque hoje eu estou acabada. Minha filha indo embora com essa morte trágica e eu não consigo me conformar. Como é que a gente faz agora, para voltar para casa com saudades da nossa filha? Sei que não estou sozinha, só Deus vai confortar, mas essa tragédia acabou com a minha vida e a da minha família”, disse a mãe da vítima, Isabel Ulisses. (Veja vídeo abaixo)
Entenda o caso
O crime ocorreu na manhã de quarta (5), num flat localizado na Rua Ribeiro de Brito, em Boa Viagem. Segundo a Polícia Militar, a vítima morava há quatro meses no local. A mulher foi encontrada nua, com um corte profundo no pescoço, após um funcionário do prédio e alguns moradores ouvirem gritos vindos do 12° andar do edifício.
No início da tarde, a Polícia Civil prendeu um vizinho da vítima, suspeito de ser o autor do crime. O homem foi levado para o DHPP, onde foi ouvido de maneira preliminar pelo delegado Francisco Océlio, responsável pela investigação do caso. Em seguida, foi levado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para realizar exame de corpo de delito.
Por volta das 19h, ele retornou ao DHPP para ser interrogado. Durante a tarde, pelo menos duas testemunhas também foram ouvidas no local. Nesta quinta-feira (6), o suspeito passa por audiência de custódia, no Fórum Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, região central do Recife.
g1