O paciente retirado do corredor do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) pela família morreu na manhã desta quinta-feira (23). A mulher de Raimundo Nonato de Brito, de 59 anos, decidiu remover o marido do corredor em uma maca no sábado (17), por causa das más condições na espera por atendimento no corredor da unidade.
O paciente chegou a ir para casa, mas voltou a ser internado na segunda-feira (20), desta vez no hospital Dr. Waldemar Alcântara, onde faleceu. Ele será sepultado em Viçosa, nesta sexta-feira (24), segundo a filha Aline Brito. “Ele morreu dormindo, sedado. Foi uma passagem tranquila”, disse a filha.
Um vídeo do caso circulou nas redes sociais e mostrou o momento em que a mulher levava o marido embora. “Foi um desabafo mesmo. Foi o que eu senti: revolta, indignação, falta de humanidade. Isso eu senti e ainda sinto. Porque a gente luta tanto, meu esposo sempre foi um homem trabalhador, sempre contribuiu, honesto, então, eu não queria muita coisa”, disse a mulher em entrevista à TV Verdes Mares sobre a denúncia que fez nas imagens. “Não fico. O paciente é meu, e aqui ele não vai morrer nesse corredor. Pode morrer em casa. Como é que eu vou ficar num corredor desses, de joelho, sentada, com um paciente com a gravidade dessas?”, declarou no vídeo que viralizou.
Segundo a família, ele estava internado há quatro meses por causa de uma pneumonia e um problema intestinal. Ele recebeu alta na última quinta-feira(16), mas passou mal novamente e, por isso, foi levado de volta ao HGF. Mas não encontrou mais uma vaga no hospital.
Depois de sair do hospital, Raimundo voltou pra casa e ficou no quarto do casal, que foi adaptado, com uma cama hospitalar e um aspirador, no sábado e domingo. Segundo a filha, uma equipe do Waldemar Alcântara foi à casa e avaliou que o caso exigia internação.
Depois que compartilhar o vídeo nas redes sociais, a família recebeu apoio de várias pessoas. A solidariedade chegou em forma de doações e também de ajuda na rotina de cuidados. “Eu vim dar um abraço na Aline, ver o que ela tá precisando, e tentar aumentar essa campanha. Porque se não houver condição de dinheiro, a gente se junta, a gente vai atrás, a gente dá um jeito”, afirma a advogada Ana Mara Rodrigues. Segundo a família, os gastos com os cuidados do pai eram altos. “Nós temos muitos gastos com meu pai. Só de gazes ao dia são 100 pacotes. São 3 mil pacotes de gaze ao mês. Então só de gaze são R$ 6 mil por mês”, disse na segunda-feira.
Atendimento médico
Sobre as denúncias da família, a coordenadora da emergência do HGF, Lara Santiago, informou que o paciente passou pelo acolhimento e por atendimento médico, onde foram solicitados exames e prescritos medicações. “Depois de umas 4 horas que estava no hospital, a família solicitou alta ao pedido, e ele infelizmente saiu do hospital. Ele chegou a receber medicação, foram feitos exames laboratoriais e foi prescrita medicação tanto pra dor como a medicação que ele estava utilizando já em casa”.
“Durante o tempo em que o paciente fica na medicação, ele fica ali, na emergência, tendo os atendimentos iniciais, para só depois a gente ter noção, de acordo com o atendimento inicial, os exames laboratoriais que foram solicitados, o exame físico que foi feito, a gente saber pra onde a gente vai mandar aquele paciente e o leito adequado pra ele”, disse.
A coordenadora acrescentou que o paciente está sendo assistido pelo sistema de atendimento domiciliar. “É um convênio do HGF com Waldemar de Alcântara, ou seja, é um serviço que o estado também já está prestando, e esse é um acompanhamento domiciliar, de segunda a sexta-feira, com equipe multiprofissional, mas aí caso ele tenha alguma intercorrência, o ideal seja que ele procure o Samu, para levá-lo para um UPA, ou procure o HGF, que está de portas abertas para recebê-lo”, disse.
Nota da secretaria
Em nota, a Secretaria de Saúde do Ceará afirma que paciente Raimundo Nonato de Brito, de 59 anos, foi admitido em 15 de novembro de 2016 na emergência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF). O paciente, que tem hipertensão e diabetes, é cardiopata. Teve também isquemia cerebral datada de 2001 que o levou à tetraplegia. Foi acompanhado por equipe multipespecializada formada por clínicos, neurocirurgiões, cirurgiões, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, dentre outros.
Em 21 de dezembro de 2016, foi transferido para a Unidade de Cuidados Especiais, em cuidados paliativos, em comum acordo com a família de não realizar medidas invasivas. Em meados de fevereiro, foi iniciada a tentativa de preparo para desospitalização. Em março, equipe e familiares optaram, também em decisão conjunta, por não realizar procedimentos invasivos. O parecer dado então foi por indicação exclusiva de cuidados paliativos.
Em 16 de março, Raimundo Nonato foi desospitalizado para programa de atenção domiciliar. O paciente retornou ao HGF em 18 de março às 09h21 e classificado com risco amarelo (médio risco) às 09h41. Atendido às 10h50, foram solicitados exames laboratoriais e o paciente passou a fazer uso de sonda. Raimundo Nonato teve medicação prescrita e foi admitido na emergência às 11h20. Às 13h12, entretanto, foi dada baixa no sistema após solicitação dos familiares de saída do paciente.
A Secretaria de Saúde esclarece, ainda, que pacientes podem receber alta e ser encaminhados para atendimento domiciliar, onde são acompanhados por meio de cuidados paliativos com apoio de equipe multidisciplinar. O serviço funciona de segunda a sexta-feira com visitas agendadas pela equipe. Nos cuidados paliativos, é necessário avaliar e controlar não somente a dor, mas todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual.
g1