Pessoas com HIV podem se vacinar contra a febre amarela, mas CD4 deve ser maior do que 350, explica o infectologista Valdez Madruga

A busca pela vacinação contra a febre amarela aumentou consideravelmente no último mês. O motivo: algumas regiões silvestres, rurais ou de mata no Brasil vivem um surto da doença. O medo de contrair a febre amarela tem lotado os serviços de saúde no país. Até agora, casos da doença foram notificados nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Segundo o infectologista José Valdez Madruga, diretor da Unidade de Pesquisa de Ensaios Clínicos do CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids) de São Paulo, as pessoas vivendo com HIV/aids podem se vacinar contra a doença, mas o CD4 (células de defesa) do paciente deve ser maior do que 350. “A vacina não é indicada para o paciente com baixa imunidade”, explicou o especialista.

Valdez disse ainda que nem todas as pessoas vivendo com HIV precisam se vacinar neste momento. “A prioridade é vacinar quem mora ou vai viajar para as regiões onde se concentram os casos, como no leste de Minas Gerais, e Presidente Prudente [SP], por exemplo.”

Vacinação

A imunização contra a febre amarela faz parte do calendário nacional e está disponível nos postos de saúde. Tomar a vacina é a principal forma de prevenção contra a doença.

A transmissão da doença ocorre pela picada dos mosquitos Haemagogus e Sabathes. O Aëdes aegypti também é transmissor da febre amarela, mas apenas em área urbana.

Vale lembrar que, em situações de emergência, a vacina pode ser administrada já a partir dos 6 meses. O indicado, no entanto, é que bebês de 9 meses sejam vacinados pela primeira vez. Depois, recebam um segundo reforço aos 4 anos de idade. A vacina tem 95% de eficiência e demora cerca de 10 dias para garantir a imunização depois da primeira aplicação.

Pessoas com mais de 5 anos de idade devem se vacinar e receber a segunda dose após 10 anos. Idosos precisam ir ao médico para avaliar os riscos de receber a imunização.

Por causar reações, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda a vacina para pessoas com doenças como lúpus e câncer, devido à baixa imunidade, nem para quem tem mais de 60 anos, grávidas e alérgicos a gelatina e ovo.

Sintomas

Os sintomas iniciais da febre amarela incluem febre de início, súbitos calafrios, dor de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza.

Atualmente, no Brasil só há casos de febre amarela silvestre. A doença não é contagiosa, ou seja, não há transmissão de pessoa a pessoa. É transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus.

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Além dos municípios que têm recomendação para a vacina, como medida de prevenção, 14 municípios do noroeste do Rio de Janeiro e 26 municípios do oeste do Espírito Santo estão vacinando a população que mora próximo à divisa do leste de Minas Gerais com casos suspeitos.

Os seguintes estados não estão na área de recomendação para a vacina: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
História da febre amarela no Brasil

A febre amarela é uma doença existente há séculos. Na década de 1880, supôs-se que o agente causador da doença pudesse ser um microorganismo. O primeiro relato internacional que contestava a ideia de febre amarela como doença contagiosa foi feito por um médico da Ilha de Cuba, Juan Carlos Finlay, em 1881.

No Brasil, o famoso médico brasileiro Emílio Ribas era um dos que acreditavam em contágio, até que vivenciou uma experiência na cidade de Jaú (SP), em 1896. Naquele ano, uma epidemia assolou a cidade e ele, por falta de condições, viu-se obrigado a reunir crianças órfãs em um hospital de isolamento repleto de vítimas da febre amarela. Para sua surpresa as crianças não adoeceram.

Algumas alusões a pernilongos como transmissores começaram a surgir no Brasil ao final do século 19, mas como “um mal” que estaria nas águas. As primeiras observações mais cuidadosas e seguidas de testes para verificação, que evidenciavam o papel dos pernilongos na transmissão da doença, mas não a partir da água e sim de pessoas doentes, foram feitas por Finlay, em continuação aos seus estudos.

Uma descoberta feita em 1878, de que um mosquito era o responsável pela transmissão de uma outra doença, a filariose humana, serviu de apoio a Finlay , que testou a espécie Aëdes aegypti , conhecida primeiro como Culex fasciatus , depois Stegomia fasciata , na transmissão da febre amarela.

No entanto, experimentos com todos os testes rigorosamente planejados e conduzidos em Cuba só foram feitos em 1900, por uma equipe americana que se guiou pelos conhecimentos de Finlay. Os resultados foram apresentados em um congresso realizado em fevereiro de 1901, confirmando as descobertas de Finlay. A partir daí iniciou-se uma campanha radical em Cuba para o controle do Aëdes aegypti, que até outubro do mesmo ano livrou Havana de tantas mortes por febre amarela.

Em 1903, o médico Oswaldo Gonçalves Cruz é nomeado diretor geral de Saúde Pública. Poucos dias após assumir, ele apresenta medidas profiláticas que acreditava necessárias no controle da febre amarela. Oswaldo Cruz conhecia os trabalhos de Finlay e da equipe americana, cujos resultados divulgou no Brasil para os demais médicos.

Em 1903, ele consegue controlar a febre no Brasil. Seu feito foi mundialmente reconhecido. Em 1928, ela ressurge no Brasil e na África, quando novas facetas do seu ciclo foram descobertas. Neste ano, a doença causou 436 mortes no Brasil. Uma campanha nacional contra a febre começa no país, por meio de um contrato assinado com a Fundação Rockfelle.

Max Theiler e Henry Smith, da Fundação Rockefeller, pesquisavam um imunizante da doença. Em 1936, eles chegaram à cepa 17D da febre amarela, vírus atenuado por passagens em cérebro de ratos e em embrião de pinto. No ano seguinte, a vacina foi testada pela primeira vez no Brasil.

Em 1940, foi desenvolvido estudo de campo no sul de Minas Gerais, com a imunização de mais de 5 mil pessoas. A pesquisa deu subsídios para os últimos ajustes na forma final da vacina.

Após ampla campanha de combate ao Aëdes aegypti, em 1957, essa espécie foi declarada erradicada do Brasil, na XV Conferência Sanitária Pan-americana.

Depois dessa data, o país teve alguns picos da doença. Em 1993, foram 83 casos registrados e em 1999, 76. A última epidemia da doença no país aconteceu nos anos de 2008 e 2009, com 46 e 47 casos, respectivamente. No ano passado, foram sete registros, com cinco mortes.

Atualmente, o Brasil vive um novo surto, considerado o maior na história, desde 1980. Segundo o Ministério da Saúde, desde 2015, foram 921 notificações da doença; destas, 161 tiveram resultado positivo para o vírus e 702 ainda estão em investigação.

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