Doença derruba produção de camarões no Ceará

O aposentado Newton Bruno de Farias está acostumado a comprar camarão, mas o preço está sendo uma novidade pra ele. “Às vezes eu comprava de dez, vinte quilos, agora é só dois quilos e tá bom”, diz.

É o comportamento da maioria dos consumidores no mercado dos peixes em Fortaleza. O quilo do camarão médio passou de R$ 15 para R$ 35 reais do meio do ano passado para cá, desde que a mancha branca chegou ao Ceará.

A mancha branca é causada por um vírus que se manifesta na fase inicial de desenvolvimento, calcificando e mudando a cor do crustáceo. Ele morre e contamina os outros, por isso, produções inteiras são perdidas antes de chegar ao consumidor.

A doença foi detectada pela primeira vez na Ásia em 1993. Dois anos depois já atingia os Estados Unidos e logo chegou à América do Sul. A mancha branca apareceu no Ceará no meio do ano passado. Em seis meses, 30 mil toneladas de camarão foram perdidas; o equivalente a 60% da produção do período.

 

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 Em uma fazenda de cultivo em Cascavel, o surgimento da doença pegou o dono de surpresa. Antes da doença, todo o ciclo de crescimento do camarão acontecia nos viveiros ao ar livre. Com a mancha branca foi preciso construir estufas pra servirem como berçário nos trinta primeiros dias. Mas agora, o camarão vai ser cultivado dentro de uma estufa na fazenda, até sair pro consumidor.

“Não adiantou a gente ter feito a estufa, se a larva não veio de qualidade. Não era uma larva boa. Já veio com vírus. Já veio com alta carga viral. Então replicou no viveiro. Não teve saída”, comenta João Paulino, engenheiro de pesca.

Na fazenda, pelo menos cinco toneladas foram perdidas, quase toda a produção da fazenda. Agora, depois de gastar quatrocentos mil reais nas estufas do berçário, será necessário mais meio milhão para cobrir dois viveiros onde o camarão vai permanecer até a fase final de engorda.

“A gente vai tentar fazer o cultivo numa temperatura alta, temperatura média de trinta e dois graus, que é o que inativa o vírus e a gente também tem que monitorar a larva. Não adianta a gente fazer o dever de casa e a larva vim uma larva ruim”, explica o engenheiro.

O presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão concorda. Ele diz que todos os países onde a mancha branca chegou, passaram a investir no trabalho em laboratório, para selecionar larvas mais resistentes, e em cuidados no manejo.

“Lá na fazenda o produtor vai ter que se acostumar com ela: criar menos animal por metros quadrado, que diminui a carga viral do viveiro, e aumentar a capacidade de água, com água melhor, alimentação mais forte. Como todo ser vivo, ele tem que estar mais resistente pra poder enfrentar o vírus”, alerta Cristiano Maia, presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão.

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